sábado, 18 de dezembro de 2010

"Já se sentiu tão vivo, que chegou a doer?" II

Há pouco mais de dois anos atrás, um dos meus primeiros textos nesse blog, carregou este título.
Era um desabafo de tristezas e angústias, de um momento do qual ainda me lembro, não sem uma pontadinha de ressentimento.
Hoje, dois anos, milhares de textos, experiências, pessoas, sorrisos, e lágrimas depois, me parece justo utilizar este título novamente. A temática, felizmente, é completamente outra.
Talvez se tivesse naquela época a visão das coisas que tenho hoje, teria administrado o sofrimento de maneira muito mais colorida. Talvez as coisas nem tenham sido tão terríveis assim.

De todo modo, há dois dias atrás, quando voltava para minha cidade natal, depois de um ano deliciosamente conturbado e atípico, me ocorreu a pergunta...
Você, Luísa, já se sentiu tão viva, que chegou a doer?
Sorrio internamente. Foi só o que fiz, nesse ano que passou.
Algumas lágrimas me escaparam ao me despedir. Me peguei agradecendo aos quatro ventos a sorte de ter amigos como eles, enquanto andava pelas ruas da pacata cidade.
Fiz muito isso, ao longo do ano. Agradecer.
Sim, obrigada pelas oportunidades, pelo amadurecimento, pelas pessoas, pela superação de limites e mudança de idéias, pela mente que foi aberta, pelo conhecimento, pelas porradas da vida, pelos consolos, festas, tesouros, momentos. Pela sintonia e amizade conquistada com alguns, em um espaço de tempo tão curto. Por descobrir, ainda que de forma dolorida e um tanto frustrada, o que é gostar de alguém de verdade. Por aprender que estar só é bom, e que eu posso muito bem me levantar sozinha, se quiser.
Me senti tão viva, todos os dias, que sim, até me dói.
Seja nas noites no apartamento de cima, seja no bar na frente da faculdade, seja dentro da faculdade ou em uma festa qualquer. Na rua, na casa dos amigos, jogando conversa fora, tomando um sorvete, salvando o mundo. Fazendo coisas que eu nem achei que fosse capaz de fazer, me vendo de um modo completamente diferente, vivendo e tendo consciência disso, sendo capaz de contagiar alguns e ser contagiada por outros.

Tão viva, que chega a doer...
Que isso perdure por mais alguns aninhos, pelo menos, por favor :)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Ei, você aí...

Você aí que é amigo, que é bobão, que tem sorriso largo e coração enorme. Que acabou se tornando uma das pessoas das quais eu mais gosto, e mais admiro. Você que é parte dessa minha nova família, desses novos amigos eternos.
Você em quem eu penso todos os dias antes de dormir, e é o primeiro que povoa minha mente quando a manhã chega...você que me fez apaixonar até por seus adoráveis defeitos.
Sempre tive desenvoltura, jeito, e tato para lidar com os sentimentos alheios. Um abraço, um afago, uma palavra.
Mas com você a voz cala, o sorriso amolece, o choro aparece, a perna bambeia e todo carinho e toda ajuda parece escapar por entre minhas mãos que perto das suas tornam-se inúteis e inexpressivas.
Desculpe por isso.
Estou aqui, bem do lado, e ver você sofrer é sofrer em dobro. Pelo sofrimento em si, e pela impotência de não poder arrancar isso do seu coração, que é nobre demais.

A verdade é que você é o que mais me importa, e eu estarei contigo, independente do que possa vir no futuro. Mesmo estando calada, inútil e miúda.

Espero um dia ter a coragem de te dizer tudo isso, ou até mesmo, quem sabe, te mostrar essas tortas linhas, e estes textos tolos, que quase sempre referem-se a você, ao seu sorriso e ao seu par de olhos (meu par de olhos favorito).

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Lágrimas à Sir Mccartney

Caem eventualmente, dentre uma ou outra fase ruim, quando a dor é tanta que tudo que se pode fazer é afundar no travesseiro e envolver-se em tristes melodias. Ou então quando a felicidade é tanta, que se ouve aquela música e só se pode chorar de alegria, por ter tanta sorte de estar viva.
Escaparam quando vi pela primeira vez aquelas imagens antigas, de quatro garotos talentosos, que ainda nem imaginavam o quão grandiosos poderiam ser. Chorei por saber que nunca os veria daquela maneira. Chorei por ter nascido com algumas décadas de atraso.
Choro de saber do amor real e sincero que o meu maior ídolo teve por sua banda, e pela música, e ao saber que esse amor bonito ainda continua vivo.
Chorei quando soube que Sir Paul Mccartney pisaria em solo brasileiro. Só a possibilidade de vê-lo fazia meus olhos marejarem.
Quando soube que sim! Ele viria, e sim! Eu o veria... lágrimas e mais lágrimas, acompanhadas de saltos que nem eu mesma sabia que era capaz de dar.
O choro soluçado quando essa certeza foi destroçada por ingressos que se esgotaram em menos de três horas.
A volta das lágrimas de alegria, quando aquela amiga mais querida de todas me ligou dizendo ter conseguido o ingresso da realização do meu maior sonho, e a volta da tristeza quando, no dia seguinte, a mesma amiga tomou emprestadas algumas de minhas lágrimas, e chorou comigo o novo desapontamento, e o fim do sonho.
A televisão sem querer foi ligada... e então?! As lágrimas pesadas e intensas, da certeza de que o maior músico do mundo estava tão perto, e eu só o veria pela tela triste e quadrada... Let it be.
Mais um tanto de lágrimas conformadas, durante a noite... e então, as lágrimas da euforia! Sim, agora era de verdade.
O dia da maior sucessão de lágrimas da história: Lágrimas pelo ônibus perdido, pelo celular perdido, pelo celular encontrado, lágrimas de agradecimento, enquanto ia apressada pela abafava avenida, lágrimas de nervoso, lágrimas pelo atraso. Metade do show se foi...lágrimas.
Portão 16A, Eleanor Rigby, lágrimas épicas e cinematográficas, acompanhadas do abraço apertado. Something, lágrimas. Todos os sentimentos e lágrimas possíveis e toda a felicidade compactada dentro daquele enorme estádio, onde todas as almas gritavam a plenos pulmões, e minhas lágrimas destinadas a ele misturavam-se e tornavam-se ainda mais fortes, junto com as lágrimas da multidão. Velhos, jovens, pobres e ricos de espírito ou de dinheiro e todas as suas histórias lacrimais dedicadas aquele homem em cima do palco. O homem do piano, do baixo, da guitarra, da voz. O meu maior ídolo, sentimento que nem todas as palavras, e nem todas as lágrimas caídas poderão explicar. Músicas pedidas? Lágrimas. E todos que eu gostaria que estivessem lá comigo? Lágrimas.
O fim que não consegui assimilar ainda...

And in the end, the love you take, is equal to the love... you make.
Paul Mccartney vai morrer afogado por todo amor que ele plantou nessa vida.
Ele me deu de presente o dia mais feliz de todos, grande parte do meu amor por música, as mais belas melodias e poesias que pude conhecer, e coisas que eu talvez ainda nem saiba que ele me deu, e, ainda assim, tudo que tenho a oferecer em troca são elas...minhas incansáveis lágrimas de amor e admiração eterna.
Obrigada.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

E dói. Não era pra doer assim.
Quero arrancar tudo que tem aqui dentro de mim, o coração que se mistura com o estômago, que leva constantes socos diáriamente,as entranhas que viram e reviram como se tivessem vontade própria, o meu cérebro cansado que não me deixa dormir, e os pensamentos agoniantes que passam por ele diariamente.
Não vejo futuro, o tempo vai passando e a perspectiva de melhora não acontece, só me vejo penetrar cada vez mais fundo nesse triste abismo que é essa dor de não poder fazer nada. "Difícil é ter que aguentar ver você passar e não poder respirar... do mesmo ar".

Só quero esquecer, só isso.
Então, mais uma vez, Doctor Howard, I'm ready to erase.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

(...)

Do sorriso tímido ao escancarado. Porque não posso ter todos em um só?
Porque dói tanto encarar que, ás vezes, o que é diferente de mim pode me agradar também?
Porque toda essa insegurança perto de pessoas que eu sei que não me despertam o mínimo interesse e que, pelo menos nos assuntos que me tem maior importância, não podem trazer nada de novo?
E essas lágrimas, porque?
Aquela garotinha de doze anos, que esperava a hora do recreio pra se esconder em um canto do pátio e admirar o menino querido, não foi embora. Ela apenas cresceu, e só no tamanho e na idade. A essência parece que não muda nunca.
Queria parar de ter esse medo de olhar para os lados. Como as pessoas vão me ver por dentro? Como vão enxergar minha parte bonita se meus olhos, os espelhos d' alma, estão sempre virados para o chão? Como mostrar a poesia, se, de nervoso, não consigo sorrir? Será que sempre terei de travar essa eterna luta de mim comigo mesma, em que ninguém vence no final?

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Por dentro.

Aqui estão os olhos de meu pai quando eu contei que passei no vestibular. As músicas que já cantou pra mim. Nós dois no carro ouvindo vento no litoral. A minha sala do terceiro ano cantando Como nossos pais, na platéia. O abraço do meu irmão. Sua boca toda suja de chocolate. A primeriva vez em que ele leu um livro pra mim. O quadro do Charles Chaplin que vou guardar com todo amor do mundo até Janeiro de 2011. Cartas, bilhetes, fotos e um milhão de códigos e segredos. Aqui está aquele caixão sendo engolido pela terra. O cheiro inesquecível daquela casa, toda sexta-feira. O barulho de uma bola batendo na parede enquanto eu tentava estudar física. Aquela amizade que era meu grude na sexta-série. A primeira grande decepção. A fuga das aulas de educação física. As lágrimas escondidas no banheiro. Um diário chamado Meggie. Meu primeiro beijo. Meu primeiro namorado. Meu primeiro grande show. A primeira vez que andei sozinha de metrô. A primeira vez que cheguei em casa quando estava amanhecendo. Meus primeiros dias de aula. Meus últimos dias de aula. Meu melhor amigo. As férias na infância. Os teatrinhos com os primos. Polícia e ladrão. Casinha de bonecas montada na sala. Casinha de bonecas montada na casa inteira.
O dia mais triste da minha vida. O dia mais feliz. A primeira grande banda favorita. A segunda grande banda favorita. A eterna grande banda favorita. Músicas que me fazem rir. As que me fazem chorar. As que simplesmente me fazem. As mil fotos em um único dia. Ouvindo Death Cab for Cutie na beira da piscina. A música que já escreveram pra mim. Minha eterna paixão de verão. O menino mais detestado de todos. As mentiras contadas. A vergonha sentida. A primeira encostada de ombros. O celular dormindo ao meu lado. A presilha do lado de cabelo. O cobertor Rafael. Oswaldo Montenegro. Balão mágico. Marisa Monte. Uma. Duas. Três. Eu vou levar estas pra sempre. Este aí também, que me entende como ninguém. Aquele amigo imaginário. A boneca vitória. O Amarildo. Alffie o eteimoso. A casa de bonecas ignorada. A camisola de sapos. O chaveiro de cachorrinho. O bidete. Nossa inhonhola. Dois pintinhos. Piu-piu e Roberto. Zeca. Um grande quintal. A banheira da suíte da vovó. Batata-frita. Quartas-feiras cinzentas embaixo das cobertas vendo filmes que eu não entendia coma vó marcinha. Seus olhos verdes. Seu cheiro bom. Seu sorriso. Os vídeos que minha mãe me manda diariamente. Sua voz rouca no telefone. Seus mimos. Meus tios, que são grandes super-heróis. As fotos no painel da vovó Lina. Seu bolinho de chuva. Suas panquecas. Suas unhas enormes e baixa estatura. Os olhos da tia Sandra. As poesias da Letícia. O sorriso da Lívia. As horas no telefone com a minha amiga holandesa. Suas belas histórias sobre o mundo que ainda não conheço. Um palhaço. Um amor por palhaços. Um desejo secreto de virar groupie. Cheiro de rosas. Libélulas. Pinguins. Diversos chingamentos. Amigos de verdade. Sorte, muita sorte. Sensibilidade extrema. Se alguém apanha alguém atravessando o campo de centeio. Psicologia. Tomaz. Tereza. Os Saltimbancos. Horas na frente do espelho com uma escova na mão e os fones de ouvido. Insegurança. Poesia. Discos de vinil. A velha vitrola herdada de meu pai. Baratos e afins. Vermelho. Minha vida antiga. O meu primeiro dia no meu primeiro emprego. A casa verde. O caminho feito todos os dias, dirante um ano inteiro. A cabeça baixa pra se esconder dos outros. A casa enorme da amiguinha de infância. A inveja das bonecas que eu não tinha. A admiração pela prima mais velha. Bobó de camarão. A viagem pra Atibáia. Santa Catarina. Seis anos de Skill. O colégio em que fiz amigos de verdade. A saudade. A auto-estima um tanto baixa. A vontade de sair correndo na chuva, quando ela começa a cair. A vontade de fazer o caminho pra casa sozinha, só pra ir ouvindo música. As crises. Explosões. A menininha sorrindo no metrô. Shows do Cachorro Grande. Uma caixa com tesouros. Uma alma de criança. Gostos secretos. Música britânica. Música brasileira. Elis Regina. Lígia. Cecília. Rita. Iolanda. Maria. Carolina. Angélica. Luísa.

Cada pessoa é um universo diferente.

Não que você se importe com isso. Ninguém se importa, afinal.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

My dreams are a cruel joke

Os olhos já tão naturalmente grandes estavam ainda mais arregalados. Como fora parar ali?
O corredor lhe era familiar, a porta verde na qual estava encostada também era uma velha conhecida. O que a intrigava era a situação.
Sentados como duas crianças, perninha de índio, um de frente para o outro. Ele a olhava como nunca olhara antes, um olhar que ela sempre quis sentir. A invadia, a reparava. Estava transparente diante daquele par de olhos. Seu par de olhos favorito.
Estiveram momentos antes dentro de uma sala de aula, mas não ouviam o que o velho professor dizia.
Agora, mais uma vez, em silencio. Quem quebraria este abismo sem som?
Ele. Lhe dirigia as palavras que por tanto tempo esperou. TANTO TEMPO! Não soube reagir de imediato.
Estática, não disse palavra alguma.


Open your eyes.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Escrevo sobre aquilo do que sou feita.

Eu falo sobre amor.
Minhas linhas tornam-se repetitivas, cansadas, estão sempre dizendo o mesmo.
Sinto-me dentro daquele filme do qual tanto gosto, em que tantos personagens e tantas histórias se reúnem, encontram e desencontram para falar do sentimento mais importante do mundo.
E sim, eu acredito que todos nós seremos salvos pelo amor, acredito mesmo que amor é tudo o que você precisa, e considero SIM toda forma de amor, se for sincera, totalmente justa e inevitavelmente linda.
Por isso essa auto-sabotagem. Por isso hoje, quando passei o olho pelos meus últimos escritos publicados notei que todos falavam da mesma coisa. Um amor de pai, um amor de avô, um coração partido pelo amor não-correspondido e o amor pelas pequenas coisinhas, invisíveis à maioria dos olhos.
E quando sentei nessa cadeira azul que tanto amo, olhei para esse pequeno tapetinho fulpudo, que tanto amo, encolhido aos meus pés, notei que mais uma vez escreveria sobre ele, só ele, porque sim, sim e sim, sou feita de amor e só dele, puro e simples. Amo o amor e, me desculpem se meus textos são cansativos por caírem sempre na mesma conversa, mas só sei escrever sobre aquilo do que sou feita :)

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Ao herói

Tenho saudade. Tenho muita saudade!
Quero você me acordando todos os dia meia hora mais cedo, só pra eu poder pensar que tenho mais tempo pra dormir, quero você fazendo uma carinha feliz no requeijão que passou na torrada, quero passar pelo seu quarto e ver você usando seus óculos tortos, lendo concentrado algum livro sobre o espiritismo. Quero voce fulo da vida comigo porque usei sua gilete de fazer a barba, ou porque mais uma vez esqueci de pendurar minhas calcinhas lavadas no varal.
Quero você me avisando de última hora o que vai fazer no fim de semana, mesmo que isso me deixe pirada de raiva. Até das coisas que me deixam braba eu sinto falta.
Você colocando a cabeça na porta do meu quarto, querendo saber a todo custo o que eu tô fazendo no computador, mesmo que você não vá entender coisa alguma.
Quero jantares surpresa e jantares para os meus amigos. Quero te ver com uma cara séria, tomando seu whisky com duas pedras de gelo, ou uma cerveja gelada, enquanto assiste os jogos de quarta-feira.
Entrar no seu quarto só pra ver você fazer cara de brabo e me mandar embora. Você cantando aquelas músicas insuportáveis, e ainda cantando errado, só pra me enfurecer. Ou então cantando Chico Buarque de Hollanda, Elis Regina e Tom Jobim, porque sabe que vai encher o meu coração de alegria.
Quero eu e você sentados na sala, como quando eu era bem pequeninha, ouvindo Balão Mágico e Oswaldo Montenegro comigo.
Domingos na casa da vó e você voltando cansado demais pra falar, no fim do dia.
Você me matando de irritação chutando sua bola de borracha pra lá e pra cá enquanto eu tô tentando estudar pra alguma prova. Suas manias de comer chocolate escondido de mim, e só me oferecer quando tá bem no finalzinho. Me surpreendendo com alguma notícia boa, me dando um livro de presente, entrando em uma loja pra comprar um CD e me deixando escolher um também.
Sentando comigo na beira da cama para ter uma "conversa séria", falando o quanto se sente feliz por eu não ter vergonha de abraçá-lo na frente dos meus amigos. Minha nossa! Como ter vergonha? Quero que todos saibam que você é meu pai, acho que eu nem tenho uma noção real da sorte que tenho.
Eu preciso de você, muito. Meu coração tá despedaçado de saudades, e eu vou ser pra sempre a menininha do seu coração, mesmo que eu já não esteja mais a dois palmos do chão, mesmo que agora você seja o vigia catando a poesia que entorno no chão. Cuida de mim pra sempre, porque eu vou cuidar pra sempre de você, e ainda te farei ter muito orgulho de mim, meu super-herói querido, salvou minha vida uma, duas, três vezes, e continua fazendo isso com apenas uma ligação. Amor transbordando por todos os lados, por todos os cantos, a cada vez que olho uma foto sua ou escuto a sua voz. Obrigada.

domingo, 15 de agosto de 2010

De outro jeito

"- De tudo o que ela disse, enfim... há algo que sirva pra mim?
O que é que importa, mesmo assim...
De eterno, só há o próprio fim...só o próprio fim"

"- Mas eu sequer tentei..."

Você sorriu... e sem querer...
No seu olhar ao me dizer:
"- Você é tão especial."
Que percebi... que nunca me amaria de outro jeito.

E então...

Você não pôde entender aquela lágrima a escorrer
Tentei sorrir quando te falei:
"- O vento está tão forte que faz os meus olhos arderem."

Foi isso que eu não pude dizer.
Adeus, meu bem.
De quem será... pra sempre seu.



Sabe aquela música que não é sua, mas você poderia muito bem ter escrito? Pois bem...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

"Today is the greatest day I've ever known(...)"

É isso.
A menina caminha com o coração um tanto partido. Não sente frio, nem calor, o sol brilha bonito no céu, mas o vento forte da Avenida permite que ela vista seu moletom favorito. Para, respira fundo, olha pro céu... sorri.
A tristeza dessa vez é diferente. Ela é serena, é madura, oposto de todas as outras vezes, não impede a menina de sorrir, de rir com alguns amigos, e de apreciar uma flor bonita no galho de uma árvore.
Talvez carregue consigo uma pitada de arrependimento. Devia ter sido mais corajosa! A covardia sempre lhe foi um problemão. Se tivesse sido mais explicita em relação aos seus sentimentos então... AH! Agora não adianta mais pensar nisso. Mal feito, feito. Acabou, pronto, vai esquecer.
Poderá cair uma lágrima ou outra, e de noite quando fechar os olhos com certeza terá um único pensamento. Só queria ter sido diferente de todo o resto, e nem isso conseguiu.
Olha para os lados. Um raio de sol inesperado invade-a por completo e então não pode evitar o pensamento de como a vida é bonita, e uma pequena chama de esperança não pode deixar de brotar dentro dela. Afinal, com um céu desses, e com uma música que lhe diz que hoje é o melhor dia que ela já conheceu, como não esperar pelo melhor, de fato? :)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Sobre as lágrimas de Marco Aurélio Milano.

Nunca tinha visto meu avô chorar, nunca. Já ouvi histórias de como ele chorou quando soube que minha vó havia morrido, alguns leves rumores de uma lágrima ou outra que se perdeu nos cantos da casa empoeirada. Só palavras, e lembranças não minhas.
Certa vez, em certo filme, uma certa Tangerina disse a um certo Joel Barish, que ninguém sabe o quão solitário é ser uma criança. Correto. Corretíssimo, eu diria. Mas o que poucos sabem é da solidão desoladora de um senhor que, não por escolha, não por vontade própria, voltou a ser criança. Eu também não sei como é essa dor, mas posso ve-la nos olhos brilhosos de meu avô, todas as vezes em que ele aparece no portão, para abri-lo para mim.
Marco Aurélio Milano tem setenta anos, mas aparente muito mais. Sofreu muito na vida, emocional e físicamente. Não fala mais, não pode mais ingerir nada sólido, consegue dar poucos passos e precisa eventualmente de um tubo de oxigênio para respirar. Esse é meu avô hoje, que ontem foi comunista fervoroso, fã de Chico Buarque de Hollanda e amante latino incorrigível.
Ele ainda é um herói e tanto, mas sua luta é a luta diária para sobreviver. Com suas manias de velho cri-cri e seu jogo de loteria do qual não abre mão, ele sempre dá um jeito de me abrir um sorriso quando vou para sua casa.
Não tinha idéia, não tinha idéia de como ele sofre com a vida que leva hoje hoje. Ele não me contou nada, não reclamou ou praguejou. Vejo a tristeza em seus olhos, vejo o cansaço, vejo-o sonhando seus sonhos inquietos, todo encolhido na cama, como um bebê.
Eu o amo, amo muito, amo muito.
Nunca tinha visto meu avô chorar, nunca. Por esses dias vi algumas lágrimas escorrerem, vi até ele perder o pouco ar que tem em seus pulmões cansados.
Lágrimas de alegria, lágrimas que brotaram por um motivo tão singelo, tão simples. "São essas as coisas que fazem ele feliz hoje em dia", disse a minha mãe. É a simplicidade que só uma criança pode enxergar. Agora sei que os velhinhos também enxergam.
Então, em um choro velado, baixinho, e escondido, chorei com ele.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

"Para Luísa"

"O seu amor sempre foi o conforto nos meus dias difíceis e a força para que eu não desistisse dos meus sonhos!
Mesmo que você não esteja sempre comigo, posso sentir sua presença no meu coração!

Com muito amor
Vovó Marcinha"


Esse cartão não foi datado. Achei hoje, enquanto mexia em minhas caixinhas. Na certa veio junto com algum presentinho secreto, desses que a minha vó costumava me dar. Encontrá-lo foi como ser testemunha de um pequeno milagre.
Obrigada.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Corrida de gotinhas

E lá estava eu, mais uma vez no banco do passageiro, fazendo o costumeiro trajeto de volta para casa. Mudando freneticamente a frequência do rádio, em busca de alguma música que pudesse me agradar, e tomando cuidado para fugir de alguma canção duvidosa que por acaso estivesse tocando nas rádios favoritas do meu pai. Ele, ardiloso, começaria a cantar emocionado, me impedindo assim de mudar de estação. É, acho que no fundo ele sabe que ver os olhos deles brilhantes, enquanto está cantando, é um dos meus pontos fracos. Quantas lembranças estarão escondidas nas melodias? Serão músicas com história, ou apenas agradáveis aos ouvidos, naquele momento? Não me importa, seus olhos cansados ficam brilhantes da mesma forma, e isso basta pra mim.
Evidentemente o tiro saiu pela culatra. Jorge Vercilo. Detesto as músicas desse cara! Bla bla bla, sempre falando a mesma coisa, e agora preciso encontrar alguma forma de me entreter nos próximos quatro minutos. Na certa poderia ficar ouvindo meu pai cantar, isso é um bocado divertido, mas depois de um tempinho é cansativo ouvir o refrão repetido pela décima vez (papai cantando como se fosse a primeira).
Olho pela janela, ou melhor, não olho. A chuvinha mansa que chove lá fora embaça o vidro do carro, faço alguns desenhos mas a minha cota de imaginação se esgota mais rápido do que deveria. Olho para os carros que passam ao lado do meu, mas quase todos estão com o vidro fechado, impedindo-me de olhar para os rostos dentro dos automóveis, dificultando a possível historia que eu poderia criar para estas pessoas. Seus destinos e seu passado ficam ocultos quando não posso olhar para eles.
Então, as vejo! Sim! Minhas salvadoras, as gotinhas de chuva caídas no vidro! Desafiando as leis da gravidade e caindo para cima, apostando corridas e despencando inescrupulosamente. Será que elas sabem que ao caírem assim tao rápido, encurtam suas vidas? Algumas cruéis acabam arrastando outras, que estavam lá, quietinhas, para o prematuro fim.
Outras, um pouco mais covardes, ficam estáticas, não vão para frente nem para trás, parecem indecisas.
Consigo ir ainda mais longe e imagino a linha da vida das gotículas. Se passar para lá, é gotinha morta, se permanecer aqui, é então cheia de vida. E elas pareceram ter entendido o meu raciocino, pois durante o tempo em que fiquei a admira-las, as do lado da vida permaneceram lá, intactas.
Não cheguei a saber se passaram para o lado de lá, não sei qual viveu, qual morreu, nao consegui terminar de conta-las.
A música acabou, enfim. Rapidamente mudei de estação. Pensei em contar ao meu pai sobre as gotas, a linha da vida e as suas aventuras. Não. Acho que isso arruinaria tudo. Meu pai é meu maior herói, mas esta cansado e preocupado demais com a vida para olhar para as gotinhas. Não o culpo, não mesmo. Pensei em morrer com o segredo delas, minhas gotinhas, mas acho que compartilha-las com o luisainthesky é muito mais sabido e divertido :)

terça-feira, 6 de julho de 2010

Antes da enchente.

Então, é hora de um novo começo.
Sempre procuro associar momentos da minha vida com uma música, ou artista, ou coisa que o valha. Talvez a música ideal apara esse momento fosse dos Smiths. Talvez eu devesse estar cantarolando "good times for a chaange..." enquanto me preparo para uma organização do meu armário, uma organização de pensamentos e um novo corte de cabelos, mas, por algum motivo, hoje comecei a ouvir algumas músicas que marcaram meus 14, 15 anos de idade (e isso nem faz tanto tempo, vai) e dentre elas, é claro, estava a saudosa Noção de nada.
Então, "já não consigo nem lembrar do mundo antes de você" é uma frase bem forte, e eu costumava cantar para alguém com quem hoje já nem falo. Mas sabe?? Eu consigo me lembrar do mundo antes dessa pessoa. Consigo me lembrar do mundo antes de todas as pessoas que já passaram pela minha vida. Na certa me lembrarei dessa minha vida de agora, conforme pessoas novas forem chegando. Poxa! Não consigo é lembrar do mundo antes de mim mesma. Essas decisões, essas mudanças, os pensamentos, a forma como eu vou lidar com meus acontecimentos, com as lágrimas que puderem vir e com as noticias que vão chegar... tudo isso cabe a mim.
Antes da enchente. Vem vindo uma enchente por ai, as coisas vão mudar. Mas não é por causa de uma segunda pessoa, não. Estou pedindo por uma mudança, e parece que tenho esperado que alguém realize essa mudança pro mim. Mas não. Ela é minha, e só minha, como tudo mais, é tão minha que até me dói.
Parece que finalmente acordei para tudo, parece que enfim esse torpor maluco no qual me enfiei finalmente tenha terminado. Começo a perceber o quanto escrever meus pensamentos e bobagens aqui faz falta, o quanto tantas outras coisas deixadas para trás fazem falta. Tá na hora de mudar. Retomar alguns velhos pensamentos, jogar fora tantos outros que agora me fazem mal, e abrir espaço para que os novos venham.
É, posso lidar com isso, sei que posso!

"Antes do sol, da chuva... antes de voce".

domingo, 4 de julho de 2010

Sem direção

Tem diversas casas.
Agora não tem mais casa alguma.
A instabilidade vem marcando a vida dessa menina, que no momento encontra-se miseravelmente cansada. Psicológica e fisicamente. Seus olhos ardem de sono, mas recusa-se a ir dormir, sabe que pensamentos que a perturbam virão também perturbar-lhe os sonhos, que sempre foram seu combustível e refúgio para os momentos dolorosos.
Sempre que a fase ruim aparece, não pode deixar de pensar naquele par de olhos verdes e naquele carinho que ela sabe (e como sabe) que tornariam as cosias mais fáceis.
Sua zona de conforto desapareceu com menos de meia dúzia de palavras ingratas. Antes contava os dias para voltar, agora se pergunta o que, de fato, está fazendo aqui.
Pensamentos bons e ruins mudam com a mesma frequência que respira e inspira o ar do quarto vazio. A respiração é acelerada e o choro é lento, vai preso na garganta, e sente voltar, com um soco no estômago, aquela sensação perdida, aquela em que não sente o chão, que já era tão frágil, em baixo de seus pequenos pés.
O grito é preso, é seco, é cheio, é vazio. É inexistente, pois nem de gritar ela se sente capaz. Quer sair correndo até não sentir mais as pernas, quer sentar em uma rua onde ninguém a conheça e quer chorar, chorar até não ter mais nada a dizer, até pegar no sono, até esquecer...
Será um longo mês.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Lá vem, lá vem, lá vem de novo..

Os olhos sempre sonhadores. Estes olhos não a deixam mentir, nunca.
Essa é provavelmente mais uma de todas as outras ilusões.


"Mas tudo bem, tudo bem, tudo bem(...)

terça-feira, 1 de junho de 2010

Ando tão a flor da pele

Não sei se é o tempo frio ou se são as lembranças que voltam constantemente.
Tenho pensado, e muito. Eu sempre penso muito, mas tenho pensado muito sobre assuntos específicos e nem sempre tão agradáveis.
Talvez eu não consiga levar algo pra frente porque tudo que por mim foi deixado para trás ainda é inacabado ou acabou de um jeito incompreensível. Sou medrosa, sou insegura. Pra tudo, tudo mesmo. Não, eu não sei me impor, e sim, eu me importo com o que pensam de mim e é claro, é claro que eu quero me adaptar, mas sem jamais perder a essência, e eu tenho isso tão vivo dentro de mim, que até dói.
A indiferença de alguns me magoa, a falta de compreensão de outros também. Quero ter um grande cordão em que eu possa envolver todos aqueles que eu amo, e quero poder voltar no tempo uns quatro anos, pra poder ouvir você me dizer boa noite, e me dizer que tudo vai ficar bem.
É só um momento, momento esse que eu só não podia segurar.
Talvez você não vá entender. Talvez ninguém vá.
Eu mesma, não entendo cosia alguma.

quarta-feira, 31 de março de 2010

O menino e o Cãozinho

Da primeira vez, ele passou por mim sem que eu houvesse reparado devidamente. Absorta em meus pensamentos e draminhas pessoais, esqueço o quanto critíco e luto contra os que perdem a essência da infância, e acabo me tornando um deles.
Mas aí é que entra aquela coisa linda chamada vida. Sempre que me acontece de afundar no próprio ego e nas pequenices, ela me vem dar um puxão de orelha. Dessa vez foi através desse adorável ser.
Moleque, não deve ter mais do que doze anos. Vêm descalço, andar displicente que só a sua vida simples lhe permite ter, cabelo despenteado no rosto e a franja irregular, colada com o suor da testa. No tornozelo sujo, trás amarrada uma coleira, e em seu encalço vem um simpático companheiro canino que não lhe desgruda nem por um segundo. Língua para fora, olhar alegre, orelhas balançando, respiração ofegante. Estiveram correndo segundos antes.
O menino compra um lanche, uma coca-cola gelada, e se acomoda em uma mesa próxima a minha. Começa o espetáculo: Metade do lanche pra um, metade do lanche pra pra outro. Poucas vezes vi alguém se divertir tanto pra comer um sanduíche.
Eles se lambuzam, se acarinham, tomam coca-cola, e não tem um que passe e não olhe para os dois amigos. Alguns com certa indiferença, é verdade, outros, como eu, olham divertidos e intrigados, e ainda aqueles que olham com certa repulsa em ver como os dois são iguais, cão e menino, menino e cão.
Por algum motivo, não sei qual, o jovem se ausentou por alguns minutos, provavelmente para ir ao banheiro, ou coisa assim. Foi então que vi o desespero de seu amiguinho, o olhar perdido, o medo de seu companheiro não voltar mais.
Olha, talvez para a maioria de vocês eu escrever sobre isso não faça o menor sentido. Talvez todo mundo veja a todo dia, a toda hora, garotos com cães, dividindo lanches e brincando na rua. Talvez ninguém entenda porque tal cena mexeu tanto comigo. E tá tudo bem, eu não me importo, afinal, eu também não sei ao certo porque tudo isso me comoveu. Mas comoveu, e ainda bem que comoveu, porque na maioria das vezes eu só preciso disso. Uma simples imagem de uma criança brincando com um cão me acorda pros inúmeros acontecimentos fantásticos do mundo.
O mundo não vai parar porque alguém partiu seu coração, ou te disse alguma coisa feia, ou te decepcionou, ou porque as coisas não saíram do jeito como você estava planejando.
Existem centenas de garotos que continuam brincando com seus cachorros, e se refrescando em um dia quente de fim de verão. O mundo não vai parar, as coisas lindas estão aí, e o sofrimento, na maioria das vezes é puramente opcional.
Obrigada ao acaso, por ter me colocado estes dois simpáticos seres no caminho, e é claro, obrigada a eles, por me lembrarem de como é bom sorrir a toa em uma terça-feira a tarde :)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Fluxo de consciência/Carta/Desabafo

O céu é tão escuro do outro lado da janela, que nem me atrevo a virar o pescoço para olhar uma segunda vez. Depois de dias de trégua as tempestades voltaram a bater violentamente contra as vidraças, e o guarda-chuva foi mais uma vez aberto, como forma de escudo contra os pingos frios e como um protesto às cores apagadas de uma cidade triste e parada.
Agora são 8h33 da manhã e aqui estou eu, esperando a rotina começar. Rotina essa que agora tem seus duas contados, e eu venho procurado a maneira mais correta de desabafar sobre isso. Vou embora, e agora é uma questão de poucas semanas. Os olhos marejam ao olhar a foto do meu pequeno irmão, posta bem aqui ao meu lado. Quando eu voltar, esse "pequeno" terá 12 anos de idade, e mesmo que eu volte com certa regularidade, perderei boa parte de sua trajetória, e isso dói.
O "vou sentir saudade" daquele que acredito ser o único por quem eu abandonaria todos os meus planos, volta aos meus ouvidos e se confunde com as palavras que digo a ele baixinho, num suspiro que engole choro...Quem é que vai cuidar de você, pai? Quem?
Quando na realidade a pergunta é quem vai cuidar de mim como você SEMPRE cuidou?
Meu quarto já é tão parte de mim que nem sei como poderei chamar outro aposento de meu. Quero leva-lo comigo, amo cada centímetro desse quarto, desde a parede vermelha aos antigos suportes de rede. Os ursinhos de pelúcia aparentemente esquecidos, a minha vitrola e os meus adorados discos de vinil. Não existe lugar como esse no mundo.
Escrevo meio escondido, enquanto imprimo envelopes que sei que imprimo pela última vez, e é claro que isso é emotivamente exagerado, mas vou sentir saudades de fazê-lo. Também vai deixar saudades essa moça, que sentou de frente pra mim por quase um ano. Por vezes quisermos matar uma a outra, por vezes ela me pegou cabulando serviço para fuçar na internet, e me deu uma baita bronca. E é claro que por vezes ela me ensinou lições que nem sabe que ensinou, e eu nem consigo pensar que daqui uma semana darei adeus a ela, aos lanchinhos no meio do expediente, às conversas, conselhos e caronas. Paulinha, uma das minhas mães.
Em 7 dias deixarei meu primeiro emprego, e os dois chefes mais bonzinhos, que eu sei que não se igualarão a nenhum outro que passe pela minha vida.
Lá se vai mais um dia de trabalho, o expediente já está quase no fim e já começo a me preparar pra ir pra casa da minha mãe, como faço frequentemente. Talvez ela seja a única que tenha a coragem de ler esse texto longo, até o final. É o jeito que ela encontra para estar perto de mim todos os dias.
Desculpe se as coisas são assim, mãe, e obrigada pelos pequenos detalhes que fazem toda a diferença. Como se interessar pelo que eu escuto, leio e escrevo, ou por sair no meio da tarde só pra comprar as coisas que eu gosto. Você é uma heroína e nem sabe.
Sei que assim que eu chegar na casa dela meu avô estará lá pra me recepcionar, com aquele olhar de quem voltou a ser criança e não lembra mais como é cuidar de si mesmo. Toda vez que me despeço dele, internamente, por mais terrível que isso possa parecer, me pergunto se será a última vez, e só de pensar nisso me dá vontade de chorar.
Aliás, tudo tem me feito chorar ultimamente. Agora já são três da tarde e eu ainda não consegui terminar esse fluxo de consciência/carta/texto/desabafo.
A música do Star Wars vem alto da televisão. Fecho meus olhos e tento a todo o custo gravar essa casa, nesse momento, dentro de mim. O chinelo do meu avô arrastando pra lá e pra cá, o cheiro que só tem aqui nessa sala, o meu ermano vendo desenho e meu tio, o cara mais inteligente que eu conheço, trabalhando no laboratório. Antes o Gabriel, meu anjo da guarda há cinco anos, apareceu de surpresa na porta do meu trabalho, andamos de mãos dadas e ele me contou da faculdade. Faculdade, é pra onde quase todos nós estamos indo. Uns, mas especiais e sonhadores, vão para a Holanda e ouros, para a alegria do público e orgulho dos amigos, vão para grupos de teatro.
Meus amigos estão escapando da minha mão, cada um segue seu caminho, e foge por entre meus dedos pequenos. Mas tá tudo bem, tenho de ir também. Agora penso naquela amiga que não só me inspirou a montar esse blog, como também me ensinou o que é a vida mais do que qualquer outra. Penso na pequena estilista com quem a vida sempre acaba me reunindo. Tem a lourinha do sorrisão, que é uma atriz formidável, os amigos de infância, os amigos que conquistei recentemente, aquelas três meninas que eu sei que vão me acompanhar pra sempre e, é claro, o meu chaveiro, talismã da sorte e amiga que lê meus pensamentos e me conhece decor.
Gostaria de levar todos comigo, todos, do fundo do meu pâncreas. São todos aqueles para quem eu não teria ter que dizer adeus.
Tem também aquele professor por quem fui apaixonada durante o ensino médio, o menino que mora no prédio próximo, que me deu meu primeiro beijo e hoje é meu grande amigo, todas as paixões platónicas que foram intensas e caladas e, é claro, aquele por quem eu sempre fui um pouquinho apaixonada, apesar de não admitir nem pro meu travesseiro.
Sei que tá na hora de parar de escrever... sinto os segundos passando. O tempo corre contra mim e meu irmão me chama pra brincar de esconde-esconde com ele.

Amanhã vou conhecer meu novo "lar", mas meu pensamento estará em São Bernardo do Campo e seus pequenos encantos. Os dias passados aqui, os sorriso, amigos, suspiros e gargalhadas, levo comigo cada esquina. Tudo aqui é tão meu, tão eu, que até dói.

(Pensamentos e declarações de amor e saudade antecipada, aos meus 17 anos de histórias e memórias vividos por aqui.)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Para Matheus.

Tem sete anos. É pequeno. Pensa que é um Jedi.
Clichê é falar do quanto as crianças são especiais e curiosas, e eu não vou nem entrar no mérito dessa discussão porque, nem se eu tentasse, conseguiria passar para um texto o quanto ESSA criança é especial e curiosa. Uma, porque as minhas habilidades como "escritora" ainda são um tanto restritas, e outra porque qualquer palavra, por mais bem elaborada, não explicaria o que é o Matheus, de maneira apropriada.
Meu irmão não é o mais inteligente, nem o mais bonito(apesar de chegar bem perto disso), ou o mais sensível, ou o mais engraçado garoto do mundo. Talvez possa dizer que ele é o mais especial, e com certeza posso dizer que ele é o mais amado, e o mais amável.
Correndo banguelo pela casa, com seu sabre de luz imaginário e vociferando palavras do seu prório vocabulário, olhando no relógio de tempo em tempo, pra não perder o horário do seu desenho favorito. Se eu pedir um beijinho pra ele, sei que para na hora o que estiver fazendo, vai chegar de mancinho e beijar meu ombro aquele beijo estaldo e gelado de sorvete de morango.
Não acho necessário me prolongar muito nesse texto, que nunca vai sair do jeito que eu gostaria e que nem sei se vou ter coragem de mostrar pra ele um dia. É mais um desabafo, uma explosão de amor e saudade antecipada, é mais um marejar de olhos que cresceu, e um suspiro que se prolongou, um pensamento que foi além do pensamento.
Aqui, Matheus, te deixo minhas desculpas sinceras, por não poder estar presente no seu dia-a-dia, pelos momentos incríveis que eu vou perder, e por não acompanhar o seu crescimento e a sua evolução como esse ser humano extraordinário que você é. Desculpe também se ás vezes eu tenho atitudes de pessoa crescida e chata, e não entendo alguma brincadeira sua.
Te deixo meu agradecimento, por me ensinar aquelas cosias que só garotinhos de sete anos podem ensinar pra gente. Obrigada também pelo amor incondicional e pela inocência, que como todo o meu coração eu desejo que você concerve.
Tenha muita força, e saiba que o mundo pode sim ser feio e cruel, mas ele é muito mais beleza, Matheus, e eu espero que você saiba enxergar isso.
Sei que não posso te proteger de todas as pessoas e situações ruins que você vai enfrentar, mas eu o faria, se pudesse.
Tem grandes olhos verdes. É magrelo. Está atualmente banguelo e queimado de sol. Eu o amo muito mais do que um dia eu pensei amar alguém.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

15:45 e a vontade súbita.

Me deu uma vontade súbita de escrever alguma coisa. Vontade boa essa, que eu não sei se foi causada pela televisão no último volume, televisão esta que mantém meu irmão pregado no sofá, sem piscar os olhos, hipnotizado pelas imagens multi coloridas que se projetam na tela.
Talvez tenha sido a chuva jorrando do céu. Talvez não, já que as nuvens tem chorado incansavelmente durante os últimos dias, sem parar.
No fim das contas, acho que meus dedos sentiram a necessidade de voar nessas teclas porque, nas últimas horas, tenho estado muito pensativa sobre tudo, especialmente sobre os meus sentimentos e apesar de eu ter a plena consciencia de que não vou conseguir falar deles de maneira aberta e concreta, aqui nesse blog, escrever e descarregar minhas energias em alguma coisa já é um grande alívio.
Hoje me emocionei quando aquele par de olhos verdes me disse que eu estava dentre as três pessoas que ele mais ama nesse mundo. Hoje me angustiei com um sentimento que eu não faço a menor questão de sentir, mas insiste em se manifestar. Hoje senti o medo de não sentir mais nada.
Quero abrir os braços e sair correndo pro meio da rua, quero tomar um banho de chuva, mas sei que não vou fazer isso, sei que não.
Sempre retomo o controle da situação com a mesma rapidez que o perco, mas tenho melhorado.
A esperança se foi com a mesma rapidez que veio, mas isso nem me abalou tanto.
Queria é saber controlar os sentimentos.
Queria é saber controlar a chuva...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Chuva III.

Ela passou tanto tempo sendo amiga da chuva,que se esqueceu do quanto simples gotas de água caídas do céu podem ser traiçoeiras.
Menina sonhadora, que inconscientemente torce para estar chovendo quando for pra rua, torce para que um ou outro pingo gelado escape à proteção do guarda chuva e venha beijar sua pele branca, fina, vulnerável.
É quase como ser traída por alguém. Ela vê as notícias na televisão, a destruição em massa, as mortes. Sua amiga é uma assassina. De noite ela chega, mas dessa vez não era esperada, e por isso vem brava, descarrega lampejos e gritos e a menina, magoada e irritada, não sede aos caprichos dos pingos enfurecidos. Confunde sentimentos, o amor pela chuva agora é encoberto pela mágoa e pelo medo de um trovão especialmente alto, que a faz acordar alarmada.
De tanto que desejou a chuva ela veio, e agora se recusa a ir. A culpa é dessa menina que não soube detestar a chuva, como todos os outros a detestam. A aceitou, porque ela a aceitara. Sob as gotas finas ela era a chuva, chuva-menina, uma só. Sua companheira de solidão momentânea tem múltiplas personalidades, e ela só percebeu isso agora.
No fim das contas, a chuva é como qualquer ser humano, que pode destruir e matar. Perdeu seu ar de pureza, algo nela desapareceu,se perdeu, algo que fazia a menina ama-lá, e não teme-lá.

A chuva nunca foi tão humana.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

As primeiras horas na estrada.

Preparem-se pra mais doze horas. De quê? De trânsito.
Os banhistas espertalhões que preferiram subir a serra na semana que vem atravessam a rua despreocupados, fazem graça com suas cadeiras de praia, sua pouca roupa e seus cabelos esvoaçantes, vão por seus pés na areia, que a chuva dos dias anteriores deixou molhada. A chuva, bendita chuva. Causa desse trânsito caótico, forte o suficiente para ienterditar diversas estradas e, pior de tudo, desabrigar tanta gente. Gente que perde sua casa logo na primeira semana do ano. Bela obra, dona chuva. Difícil acreditar que esse mundarel de água, destrutivo e triste, vem do mesmo céu de onde vem a garoa fina e a rápida chuva de verão. É mais uma questão da série de coisas que eu nunca vou entender.
Presa em um engarrafamento enlouquecedor de doze horas... o tempo não ajuda, abafado demais, ensolarado de menos! O bafo de maresia chega á janela, e o mal humor só não me alcança porque me encontro munida de agenda, lapiseira, um mp4 com a bateria pela metade, livros e promessas e sonhos de um ano que acabou de chegar. Todos eles excelentes repelentes contra a cara amarrada.
Agora a estrada ganhou um verde mais bonito, nas laterais. Olho através da janela e descubro um céu apagado e tranquilo, lembro do sonho que tive na noite retrasada. Sonho que eu reconheço ser magnífico e único e que não ouso contar a mais ninguém que não seja o homem que está dirigindo o carro. Ele parado, eu parada.
Coincidência ou não, Renato Russo me diz aqui que há tempos teve um sonho do qual ele não se lembra... bem, eu espero me lembrar do meu sonho pra sempre.
Fecho os olhos por um instante, que descubro ser um instante longo demais. Talvez seja o meu corpo avisando que uma soneca é o melhor escape pras horas de trânsito que ainda me esperam. Digo até logo para minha agenda, nova companheira inseparável, e olá para os meus sonhos, que, possíveis ou impossíveis, vem sempre comigo.