segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Fragilidade. Morte.


Em um minuto está lá, e no outro...morte.
Deixamos as pessoas irem embora tendo plena certeza de que irão voltar. Partimos confiantes do nosso retorno. Morte.
É o carro que capota, o coração que fraqueja, a pele que queima, as células que se reproduzem rápido demais. Morte.
É o adeus que não damos, é a última briga. A última palavra dita. E a não dita.
Morte.
Pensar na fragilidade de nossos corpos e almas é desolador. Pensar em como tratamos isso como se fosse nada, é o fim do mundo.
Quem me garante que todos aqueles pra quem disse “até amanhã” estarão lá?
Porque acho que esta noite dormirei tranquila, sem qualquer notícia devastadora? Morte.
Cada minuto é um feito, cada respiração é o maior milagre de todos. E não adianta dizer que é por isso que devemos viver intensamente e aproveitar o dia. Ninguém faz isso. Todos acham que existem mais dias por vir.
Antes aqui, agora lembrança. Morte.
E este meu impulso sádico me faz ter insônia ás 01:14 da manhã, pensando na dor de perder todos aqueles ao meu redor. Pode estar acontecendo agora. O choro antecipado só veio mesmo adiantar o que um dia acontecerá a todos. Morte.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Conversa de botas batidas.

"Diz, quem é maior que o amor? 
 Me abraça forte agora, que é chegada a nossa hora 
 Vem, vamos além 
 Vão dizer, que a vida é passageira 
 Sem notar que a nossa estrela vai cair" 


 Talvez agora eu consiga escrever algo sobre você, pois nem parece que já faz algumas semanas que não habitamos mais o mesmo mundo. Eu do lado de cá, tão imersa em problemas insignificantes, na rotina sufocante, nos medos que estagnam, fico tão longe do universo do lado de lá, que nem parece que você foi embora. Não dá pra imaginar que teu quarto agora se fez vazio, e que os bonequinhos, estátuas, enfeites de papai noel serão distribuídos para os membros da família. É mentira, quando eu voltar pra minha vida antiga, terão panquecas esperando por mim,e você vai me irritar com aquele teu jeito de sempre querer oferecer aquilo que tem (e que não tem também) na tua casa. Claro que você ainda estará lá, esperando a gente chegar pra mais um almoço de domingo. Sua cama não vai estar vazia. Não pode. Não pode porque havíamos combinado de fazer tua festa de aniversário no salão do prédio esse ano. Essa promessa não pode ser quebrada, temos que contar todos os presentes que você ganhou, como no fim da festa de uma criança. Como é que a vida continua depois de você? E aqueles que precisavam da tua oração pra sarar dor de cabeça? E os que tinham o prazer de rir dos teus palavrões? E tua neta, como fica ela que poderia ter te dito tanta coisa que tá agora presa na garganta? Como ficam essas palavras que vão morrer comigo e que nunca vão chegar aos teus ouvidos, que sempre ouviram tão bem o problema dos outros? E quem vai deixar a família inteira extremamente sem paciência com melodramas? Com quem eu vou brigar porque comeu um pudim que não deveria? Pra quem a música da barata vai tocar nas festas de natal? Teu nome cheio de significado e importância soa agora vazio pelo corredor do quintal, porque você não vai atender ao nosso chamado. Não subirei mais a escada da tua casa, nem dormirei no sofá sem querer. E disseram que a última roupa que você usou foi você mesma quem escolheu. Ainda bem. Você ia ficar puta da vida se fosse ao contrário. Ficam o vazio da saudade e a música que fizeram pra ti, ecoando incansavelmente na minha alma dolorida e triste.

 "O Natalina, dê um sorriso aí! Cante e encante que hoje o dia é todo seu, vem aqui dançar com a gente, que o prazer é todo meu".
 O prazer é todo meu, vó.
 Obrigada por tudo.