sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Sobre a borboleta

No meio da escada tinha uma borboleta
Tinha uma borboleta no meio da escada

Lá estava eu, atrasada para a primeira aula de sexta feira, ouvindo música e perdida em meus pensamentos. Sentei na escada, tomando cuidado para não encontrar o olhar de nenhuma das pessoas que estavam a minha volta, e então a vi. A borboleta, nem tão grande, nem tão pequena, parecia não ter olhos, estava claramente machucada, não era nem tão bonita, nem tão feia, era acinzentada e triste, como a manhã que se fazia lá fora.
Senti uma tremenda compaixão pela minha nova companheira de escada. Era companheira de solidão momentânea, e também estava deslocada naquele ambiente que não era o dela.
Quis tirá-la de lá, pude prever milhões de pés passando por cima dela depois do sinal que anuncia o intervalo, mas não tive coragem o suficiente pra isso. Sou covarde, e nisso a borboletinha era muito melhor que eu. Tinha um ar intimidador, com suas anteninhas apontando para a frente, e apesar de machucada, se mostrava forte.
A chegada de uma conhecida me distraiu completamente e acabei esquecendo minha amiga da asa cinza e quebrada. Na certa se perdeu na sola do sapato de alguém.
Fui lembrar dela no meio da aula, e agora já nem sei qual foi o motivo, só sei que senti uma culpa grande por ter esquecido daquela borboleta, que me fez perceber então, o quanto esquecemos das coisas pequenas com facilidade.
Uma pessoa é uma pessoa, não importa o quão pequena ela seja, aprendi isso assistindo a um filme que meu irmão de sete anos me emprestou. Bem, uma borboleta é uma borboleta, a borboletinha que tá na cozinha fazendo chocolate para a madrinha, ou a borboleta pequenina atrás do cafezal na noite de natal, ou as borboletas no estômago do apaixonado, ou aquela que nos trás sorte quando pousa em nosso ombro, ou então a borboleta de asas cinzas e quebradas, pausada no degrau de uma escola cinza e quebrada.
Não sei o que se fez dessa amiguinha, mas esse texto, é pra ela :)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Rua-cidade às 2h30 da manhã

Até as luzes parecem grandes demais.
Poderia facilmente me referir a esta rua como uma cidade inteira, onde as vidas se chocam e cada um representa o seu papel, muito bem representado.
Tenho escrito nesse blog com bem menos frequência do que gostaria, e durante o tempo em que fico afastada, uma dezena de textos passam pela minha cabeça, a respeito de momentos, ou frases, ou histórias... o que for. No entanto, quando hoje cliquei no "nova postagem", sem saber ao certo o que iria escrever, só sabendo dentro de mim que precisava fazê-lo, as luzes dessa rua-cidade vieram a minha mente, junto com o inevitável sentimento de pequenez que me toma, quando eu passo por ela.
Tenho-a como algo inatingível, ainda impossível para mim. O momento em que poderei caminhar por ela sem as preocupações e cobrança de horários ainda me parece distante, e por mais que eu anseie esse momento com certa intolerância, tenho medo de quando ele chegar.
Sei que quando as portas dessa cidade se abrirem para mim, alguma coisa aqui dentro vai morrer, algo de inocente e tranquilo será tomado pelo medo, pela insegurança e pela parcial liberdade que essas luzes, hoje vistas apenas através do vidro do carro, trarão pra mim no dia em que eu quebrar as barreiras.
Paro, vejo. Alguém no banco da frente do carro me indica alguma coisa, uma pessoa, ou um bar, não sei. Tudo o que vejo são borrões, e os rostos desses borrões, que procuram desesperadamente um refúgio nas esquinas da rua-cidade escura.
O carro segue, a rua fica para trás, mas o fascinio e a pequenez em relação a ela continuam. E me dizem que não é nada de mais, que é só uma rua... Mas é claro que eu não acredito.