segunda-feira, 19 de julho de 2010

"Para Luísa"

"O seu amor sempre foi o conforto nos meus dias difíceis e a força para que eu não desistisse dos meus sonhos!
Mesmo que você não esteja sempre comigo, posso sentir sua presença no meu coração!

Com muito amor
Vovó Marcinha"


Esse cartão não foi datado. Achei hoje, enquanto mexia em minhas caixinhas. Na certa veio junto com algum presentinho secreto, desses que a minha vó costumava me dar. Encontrá-lo foi como ser testemunha de um pequeno milagre.
Obrigada.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Corrida de gotinhas

E lá estava eu, mais uma vez no banco do passageiro, fazendo o costumeiro trajeto de volta para casa. Mudando freneticamente a frequência do rádio, em busca de alguma música que pudesse me agradar, e tomando cuidado para fugir de alguma canção duvidosa que por acaso estivesse tocando nas rádios favoritas do meu pai. Ele, ardiloso, começaria a cantar emocionado, me impedindo assim de mudar de estação. É, acho que no fundo ele sabe que ver os olhos deles brilhantes, enquanto está cantando, é um dos meus pontos fracos. Quantas lembranças estarão escondidas nas melodias? Serão músicas com história, ou apenas agradáveis aos ouvidos, naquele momento? Não me importa, seus olhos cansados ficam brilhantes da mesma forma, e isso basta pra mim.
Evidentemente o tiro saiu pela culatra. Jorge Vercilo. Detesto as músicas desse cara! Bla bla bla, sempre falando a mesma coisa, e agora preciso encontrar alguma forma de me entreter nos próximos quatro minutos. Na certa poderia ficar ouvindo meu pai cantar, isso é um bocado divertido, mas depois de um tempinho é cansativo ouvir o refrão repetido pela décima vez (papai cantando como se fosse a primeira).
Olho pela janela, ou melhor, não olho. A chuvinha mansa que chove lá fora embaça o vidro do carro, faço alguns desenhos mas a minha cota de imaginação se esgota mais rápido do que deveria. Olho para os carros que passam ao lado do meu, mas quase todos estão com o vidro fechado, impedindo-me de olhar para os rostos dentro dos automóveis, dificultando a possível historia que eu poderia criar para estas pessoas. Seus destinos e seu passado ficam ocultos quando não posso olhar para eles.
Então, as vejo! Sim! Minhas salvadoras, as gotinhas de chuva caídas no vidro! Desafiando as leis da gravidade e caindo para cima, apostando corridas e despencando inescrupulosamente. Será que elas sabem que ao caírem assim tao rápido, encurtam suas vidas? Algumas cruéis acabam arrastando outras, que estavam lá, quietinhas, para o prematuro fim.
Outras, um pouco mais covardes, ficam estáticas, não vão para frente nem para trás, parecem indecisas.
Consigo ir ainda mais longe e imagino a linha da vida das gotículas. Se passar para lá, é gotinha morta, se permanecer aqui, é então cheia de vida. E elas pareceram ter entendido o meu raciocino, pois durante o tempo em que fiquei a admira-las, as do lado da vida permaneceram lá, intactas.
Não cheguei a saber se passaram para o lado de lá, não sei qual viveu, qual morreu, nao consegui terminar de conta-las.
A música acabou, enfim. Rapidamente mudei de estação. Pensei em contar ao meu pai sobre as gotas, a linha da vida e as suas aventuras. Não. Acho que isso arruinaria tudo. Meu pai é meu maior herói, mas esta cansado e preocupado demais com a vida para olhar para as gotinhas. Não o culpo, não mesmo. Pensei em morrer com o segredo delas, minhas gotinhas, mas acho que compartilha-las com o luisainthesky é muito mais sabido e divertido :)

terça-feira, 6 de julho de 2010

Antes da enchente.

Então, é hora de um novo começo.
Sempre procuro associar momentos da minha vida com uma música, ou artista, ou coisa que o valha. Talvez a música ideal apara esse momento fosse dos Smiths. Talvez eu devesse estar cantarolando "good times for a chaange..." enquanto me preparo para uma organização do meu armário, uma organização de pensamentos e um novo corte de cabelos, mas, por algum motivo, hoje comecei a ouvir algumas músicas que marcaram meus 14, 15 anos de idade (e isso nem faz tanto tempo, vai) e dentre elas, é claro, estava a saudosa Noção de nada.
Então, "já não consigo nem lembrar do mundo antes de você" é uma frase bem forte, e eu costumava cantar para alguém com quem hoje já nem falo. Mas sabe?? Eu consigo me lembrar do mundo antes dessa pessoa. Consigo me lembrar do mundo antes de todas as pessoas que já passaram pela minha vida. Na certa me lembrarei dessa minha vida de agora, conforme pessoas novas forem chegando. Poxa! Não consigo é lembrar do mundo antes de mim mesma. Essas decisões, essas mudanças, os pensamentos, a forma como eu vou lidar com meus acontecimentos, com as lágrimas que puderem vir e com as noticias que vão chegar... tudo isso cabe a mim.
Antes da enchente. Vem vindo uma enchente por ai, as coisas vão mudar. Mas não é por causa de uma segunda pessoa, não. Estou pedindo por uma mudança, e parece que tenho esperado que alguém realize essa mudança pro mim. Mas não. Ela é minha, e só minha, como tudo mais, é tão minha que até me dói.
Parece que finalmente acordei para tudo, parece que enfim esse torpor maluco no qual me enfiei finalmente tenha terminado. Começo a perceber o quanto escrever meus pensamentos e bobagens aqui faz falta, o quanto tantas outras coisas deixadas para trás fazem falta. Tá na hora de mudar. Retomar alguns velhos pensamentos, jogar fora tantos outros que agora me fazem mal, e abrir espaço para que os novos venham.
É, posso lidar com isso, sei que posso!

"Antes do sol, da chuva... antes de voce".

domingo, 4 de julho de 2010

Sem direção

Tem diversas casas.
Agora não tem mais casa alguma.
A instabilidade vem marcando a vida dessa menina, que no momento encontra-se miseravelmente cansada. Psicológica e fisicamente. Seus olhos ardem de sono, mas recusa-se a ir dormir, sabe que pensamentos que a perturbam virão também perturbar-lhe os sonhos, que sempre foram seu combustível e refúgio para os momentos dolorosos.
Sempre que a fase ruim aparece, não pode deixar de pensar naquele par de olhos verdes e naquele carinho que ela sabe (e como sabe) que tornariam as cosias mais fáceis.
Sua zona de conforto desapareceu com menos de meia dúzia de palavras ingratas. Antes contava os dias para voltar, agora se pergunta o que, de fato, está fazendo aqui.
Pensamentos bons e ruins mudam com a mesma frequência que respira e inspira o ar do quarto vazio. A respiração é acelerada e o choro é lento, vai preso na garganta, e sente voltar, com um soco no estômago, aquela sensação perdida, aquela em que não sente o chão, que já era tão frágil, em baixo de seus pequenos pés.
O grito é preso, é seco, é cheio, é vazio. É inexistente, pois nem de gritar ela se sente capaz. Quer sair correndo até não sentir mais as pernas, quer sentar em uma rua onde ninguém a conheça e quer chorar, chorar até não ter mais nada a dizer, até pegar no sono, até esquecer...
Será um longo mês.