quarta-feira, 1 de junho de 2011

Descobrindo Universos.

A mesma sorveteria, ao menos uma vez a cada duas semanas. O mesmo homem de sorriso terno, pouco mais de 50 anos, boné na cabeça, avental alvíssimo e um oclinhos escondendo um olhar que mais tarde se revelará saudoso e sonhador. Uma gentileza sempre sincera e piadas casuais de dono de sorveteria. "Boa noite". "Obrigada". "Volte sempre".
Tenho o péssimo hábito de ser levada pela rotina. Vez por outra penso estar ficando com o espírito de um adulto, ouço menos música, falo menos sobre as pequenices da vida, escrevo menos no meu blog e acabo esquecendo que cada pessoa é um universo inteirinho, único.
O bonito, bonito mesmo, é que sempre que isso acontece, sempre que eu resolvo ficar velha,a vida me aparece com todas as suas coisas bonitas, e dá um jeito de me enviar um sinal. O dessa vez foi ele, o dono da minha sorveteria favorita.
De repente, fui honrada com um pedacinho do universo desse homem, que se abriu, fundiu-se com o meu, e esse partilhamento de alegrias surgiu de um mero detalhe, que me acompanha sempre, tanto que vez por outra me esqueço dele.
Então é isso, da imagem estampada na bolsa favorita, imagem essa da banda favorita, vem o comentário, e do comentário surge a conversa, a surpresa, o sentimento de culpa por subestimar tanto os universos bonitos das pessoas, por não percebe-los, e a alegria de poder, de repente, ter a percepção destes universos uma vez ou outra. Surpreender-se.
O dono do melhor sorvete de morango da Galáxia, sim, ele mesmo. Ele fez serenatas para suas namoradas, tocou Taiguara, Chico Buarque, Toquinho, Vinícius, e conheceu todos eles na época em que trabalhava na rádio de Assis. Viveu na época da ditaruda, curtiu rock 'n' roll de qualidade. Gosta do Paul, dos Beatles, Pink e Floyd e todas essas bandas geniais. Sente-se triste pela geração de seus filhos, que não tem pelo que lutar, e que não quer lutar por nada. Lamenta a música brasileira, que só sabe divulgar aquilo que não presta.
Talvez exagere um pouco ao contar suas histórias, e isso é plenamente compreensível. Todos nós queremos deixar o nosso universo mais belo e especial do que ele já é.
Indicou-me programas da TV Cultura, contou-me da sua coleção de discos de vinil e me disse o quanto era legal que eu gostasse das mesmas coisas que ele.
Comentei que eu provavelmente tenha nascido na época errada. Ele concordou.

Saí da sorveteria com vontade de chorar de alegria, agradecendo muito à vida por estes puxõs de orelha.
E por cada um de nós sermos universos incríveis a serem desvendados. Incríveis.



Obs: Obrigada meu bem, por ter partilhado esse momento comigo. E por ter sentido o mesmo que eu.