quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

15:45 e a vontade súbita.

Me deu uma vontade súbita de escrever alguma coisa. Vontade boa essa, que eu não sei se foi causada pela televisão no último volume, televisão esta que mantém meu irmão pregado no sofá, sem piscar os olhos, hipnotizado pelas imagens multi coloridas que se projetam na tela.
Talvez tenha sido a chuva jorrando do céu. Talvez não, já que as nuvens tem chorado incansavelmente durante os últimos dias, sem parar.
No fim das contas, acho que meus dedos sentiram a necessidade de voar nessas teclas porque, nas últimas horas, tenho estado muito pensativa sobre tudo, especialmente sobre os meus sentimentos e apesar de eu ter a plena consciencia de que não vou conseguir falar deles de maneira aberta e concreta, aqui nesse blog, escrever e descarregar minhas energias em alguma coisa já é um grande alívio.
Hoje me emocionei quando aquele par de olhos verdes me disse que eu estava dentre as três pessoas que ele mais ama nesse mundo. Hoje me angustiei com um sentimento que eu não faço a menor questão de sentir, mas insiste em se manifestar. Hoje senti o medo de não sentir mais nada.
Quero abrir os braços e sair correndo pro meio da rua, quero tomar um banho de chuva, mas sei que não vou fazer isso, sei que não.
Sempre retomo o controle da situação com a mesma rapidez que o perco, mas tenho melhorado.
A esperança se foi com a mesma rapidez que veio, mas isso nem me abalou tanto.
Queria é saber controlar os sentimentos.
Queria é saber controlar a chuva...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Chuva III.

Ela passou tanto tempo sendo amiga da chuva,que se esqueceu do quanto simples gotas de água caídas do céu podem ser traiçoeiras.
Menina sonhadora, que inconscientemente torce para estar chovendo quando for pra rua, torce para que um ou outro pingo gelado escape à proteção do guarda chuva e venha beijar sua pele branca, fina, vulnerável.
É quase como ser traída por alguém. Ela vê as notícias na televisão, a destruição em massa, as mortes. Sua amiga é uma assassina. De noite ela chega, mas dessa vez não era esperada, e por isso vem brava, descarrega lampejos e gritos e a menina, magoada e irritada, não sede aos caprichos dos pingos enfurecidos. Confunde sentimentos, o amor pela chuva agora é encoberto pela mágoa e pelo medo de um trovão especialmente alto, que a faz acordar alarmada.
De tanto que desejou a chuva ela veio, e agora se recusa a ir. A culpa é dessa menina que não soube detestar a chuva, como todos os outros a detestam. A aceitou, porque ela a aceitara. Sob as gotas finas ela era a chuva, chuva-menina, uma só. Sua companheira de solidão momentânea tem múltiplas personalidades, e ela só percebeu isso agora.
No fim das contas, a chuva é como qualquer ser humano, que pode destruir e matar. Perdeu seu ar de pureza, algo nela desapareceu,se perdeu, algo que fazia a menina ama-lá, e não teme-lá.

A chuva nunca foi tão humana.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

As primeiras horas na estrada.

Preparem-se pra mais doze horas. De quê? De trânsito.
Os banhistas espertalhões que preferiram subir a serra na semana que vem atravessam a rua despreocupados, fazem graça com suas cadeiras de praia, sua pouca roupa e seus cabelos esvoaçantes, vão por seus pés na areia, que a chuva dos dias anteriores deixou molhada. A chuva, bendita chuva. Causa desse trânsito caótico, forte o suficiente para ienterditar diversas estradas e, pior de tudo, desabrigar tanta gente. Gente que perde sua casa logo na primeira semana do ano. Bela obra, dona chuva. Difícil acreditar que esse mundarel de água, destrutivo e triste, vem do mesmo céu de onde vem a garoa fina e a rápida chuva de verão. É mais uma questão da série de coisas que eu nunca vou entender.
Presa em um engarrafamento enlouquecedor de doze horas... o tempo não ajuda, abafado demais, ensolarado de menos! O bafo de maresia chega á janela, e o mal humor só não me alcança porque me encontro munida de agenda, lapiseira, um mp4 com a bateria pela metade, livros e promessas e sonhos de um ano que acabou de chegar. Todos eles excelentes repelentes contra a cara amarrada.
Agora a estrada ganhou um verde mais bonito, nas laterais. Olho através da janela e descubro um céu apagado e tranquilo, lembro do sonho que tive na noite retrasada. Sonho que eu reconheço ser magnífico e único e que não ouso contar a mais ninguém que não seja o homem que está dirigindo o carro. Ele parado, eu parada.
Coincidência ou não, Renato Russo me diz aqui que há tempos teve um sonho do qual ele não se lembra... bem, eu espero me lembrar do meu sonho pra sempre.
Fecho os olhos por um instante, que descubro ser um instante longo demais. Talvez seja o meu corpo avisando que uma soneca é o melhor escape pras horas de trânsito que ainda me esperam. Digo até logo para minha agenda, nova companheira inseparável, e olá para os meus sonhos, que, possíveis ou impossíveis, vem sempre comigo.