quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Ao herói

Tenho saudade. Tenho muita saudade!
Quero você me acordando todos os dia meia hora mais cedo, só pra eu poder pensar que tenho mais tempo pra dormir, quero você fazendo uma carinha feliz no requeijão que passou na torrada, quero passar pelo seu quarto e ver você usando seus óculos tortos, lendo concentrado algum livro sobre o espiritismo. Quero voce fulo da vida comigo porque usei sua gilete de fazer a barba, ou porque mais uma vez esqueci de pendurar minhas calcinhas lavadas no varal.
Quero você me avisando de última hora o que vai fazer no fim de semana, mesmo que isso me deixe pirada de raiva. Até das coisas que me deixam braba eu sinto falta.
Você colocando a cabeça na porta do meu quarto, querendo saber a todo custo o que eu tô fazendo no computador, mesmo que você não vá entender coisa alguma.
Quero jantares surpresa e jantares para os meus amigos. Quero te ver com uma cara séria, tomando seu whisky com duas pedras de gelo, ou uma cerveja gelada, enquanto assiste os jogos de quarta-feira.
Entrar no seu quarto só pra ver você fazer cara de brabo e me mandar embora. Você cantando aquelas músicas insuportáveis, e ainda cantando errado, só pra me enfurecer. Ou então cantando Chico Buarque de Hollanda, Elis Regina e Tom Jobim, porque sabe que vai encher o meu coração de alegria.
Quero eu e você sentados na sala, como quando eu era bem pequeninha, ouvindo Balão Mágico e Oswaldo Montenegro comigo.
Domingos na casa da vó e você voltando cansado demais pra falar, no fim do dia.
Você me matando de irritação chutando sua bola de borracha pra lá e pra cá enquanto eu tô tentando estudar pra alguma prova. Suas manias de comer chocolate escondido de mim, e só me oferecer quando tá bem no finalzinho. Me surpreendendo com alguma notícia boa, me dando um livro de presente, entrando em uma loja pra comprar um CD e me deixando escolher um também.
Sentando comigo na beira da cama para ter uma "conversa séria", falando o quanto se sente feliz por eu não ter vergonha de abraçá-lo na frente dos meus amigos. Minha nossa! Como ter vergonha? Quero que todos saibam que você é meu pai, acho que eu nem tenho uma noção real da sorte que tenho.
Eu preciso de você, muito. Meu coração tá despedaçado de saudades, e eu vou ser pra sempre a menininha do seu coração, mesmo que eu já não esteja mais a dois palmos do chão, mesmo que agora você seja o vigia catando a poesia que entorno no chão. Cuida de mim pra sempre, porque eu vou cuidar pra sempre de você, e ainda te farei ter muito orgulho de mim, meu super-herói querido, salvou minha vida uma, duas, três vezes, e continua fazendo isso com apenas uma ligação. Amor transbordando por todos os lados, por todos os cantos, a cada vez que olho uma foto sua ou escuto a sua voz. Obrigada.

domingo, 15 de agosto de 2010

De outro jeito

"- De tudo o que ela disse, enfim... há algo que sirva pra mim?
O que é que importa, mesmo assim...
De eterno, só há o próprio fim...só o próprio fim"

"- Mas eu sequer tentei..."

Você sorriu... e sem querer...
No seu olhar ao me dizer:
"- Você é tão especial."
Que percebi... que nunca me amaria de outro jeito.

E então...

Você não pôde entender aquela lágrima a escorrer
Tentei sorrir quando te falei:
"- O vento está tão forte que faz os meus olhos arderem."

Foi isso que eu não pude dizer.
Adeus, meu bem.
De quem será... pra sempre seu.



Sabe aquela música que não é sua, mas você poderia muito bem ter escrito? Pois bem...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

"Today is the greatest day I've ever known(...)"

É isso.
A menina caminha com o coração um tanto partido. Não sente frio, nem calor, o sol brilha bonito no céu, mas o vento forte da Avenida permite que ela vista seu moletom favorito. Para, respira fundo, olha pro céu... sorri.
A tristeza dessa vez é diferente. Ela é serena, é madura, oposto de todas as outras vezes, não impede a menina de sorrir, de rir com alguns amigos, e de apreciar uma flor bonita no galho de uma árvore.
Talvez carregue consigo uma pitada de arrependimento. Devia ter sido mais corajosa! A covardia sempre lhe foi um problemão. Se tivesse sido mais explicita em relação aos seus sentimentos então... AH! Agora não adianta mais pensar nisso. Mal feito, feito. Acabou, pronto, vai esquecer.
Poderá cair uma lágrima ou outra, e de noite quando fechar os olhos com certeza terá um único pensamento. Só queria ter sido diferente de todo o resto, e nem isso conseguiu.
Olha para os lados. Um raio de sol inesperado invade-a por completo e então não pode evitar o pensamento de como a vida é bonita, e uma pequena chama de esperança não pode deixar de brotar dentro dela. Afinal, com um céu desses, e com uma música que lhe diz que hoje é o melhor dia que ela já conheceu, como não esperar pelo melhor, de fato? :)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Sobre as lágrimas de Marco Aurélio Milano.

Nunca tinha visto meu avô chorar, nunca. Já ouvi histórias de como ele chorou quando soube que minha vó havia morrido, alguns leves rumores de uma lágrima ou outra que se perdeu nos cantos da casa empoeirada. Só palavras, e lembranças não minhas.
Certa vez, em certo filme, uma certa Tangerina disse a um certo Joel Barish, que ninguém sabe o quão solitário é ser uma criança. Correto. Corretíssimo, eu diria. Mas o que poucos sabem é da solidão desoladora de um senhor que, não por escolha, não por vontade própria, voltou a ser criança. Eu também não sei como é essa dor, mas posso ve-la nos olhos brilhosos de meu avô, todas as vezes em que ele aparece no portão, para abri-lo para mim.
Marco Aurélio Milano tem setenta anos, mas aparente muito mais. Sofreu muito na vida, emocional e físicamente. Não fala mais, não pode mais ingerir nada sólido, consegue dar poucos passos e precisa eventualmente de um tubo de oxigênio para respirar. Esse é meu avô hoje, que ontem foi comunista fervoroso, fã de Chico Buarque de Hollanda e amante latino incorrigível.
Ele ainda é um herói e tanto, mas sua luta é a luta diária para sobreviver. Com suas manias de velho cri-cri e seu jogo de loteria do qual não abre mão, ele sempre dá um jeito de me abrir um sorriso quando vou para sua casa.
Não tinha idéia, não tinha idéia de como ele sofre com a vida que leva hoje hoje. Ele não me contou nada, não reclamou ou praguejou. Vejo a tristeza em seus olhos, vejo o cansaço, vejo-o sonhando seus sonhos inquietos, todo encolhido na cama, como um bebê.
Eu o amo, amo muito, amo muito.
Nunca tinha visto meu avô chorar, nunca. Por esses dias vi algumas lágrimas escorrerem, vi até ele perder o pouco ar que tem em seus pulmões cansados.
Lágrimas de alegria, lágrimas que brotaram por um motivo tão singelo, tão simples. "São essas as coisas que fazem ele feliz hoje em dia", disse a minha mãe. É a simplicidade que só uma criança pode enxergar. Agora sei que os velhinhos também enxergam.
Então, em um choro velado, baixinho, e escondido, chorei com ele.