quarta-feira, 31 de março de 2010

O menino e o Cãozinho

Da primeira vez, ele passou por mim sem que eu houvesse reparado devidamente. Absorta em meus pensamentos e draminhas pessoais, esqueço o quanto critíco e luto contra os que perdem a essência da infância, e acabo me tornando um deles.
Mas aí é que entra aquela coisa linda chamada vida. Sempre que me acontece de afundar no próprio ego e nas pequenices, ela me vem dar um puxão de orelha. Dessa vez foi através desse adorável ser.
Moleque, não deve ter mais do que doze anos. Vêm descalço, andar displicente que só a sua vida simples lhe permite ter, cabelo despenteado no rosto e a franja irregular, colada com o suor da testa. No tornozelo sujo, trás amarrada uma coleira, e em seu encalço vem um simpático companheiro canino que não lhe desgruda nem por um segundo. Língua para fora, olhar alegre, orelhas balançando, respiração ofegante. Estiveram correndo segundos antes.
O menino compra um lanche, uma coca-cola gelada, e se acomoda em uma mesa próxima a minha. Começa o espetáculo: Metade do lanche pra um, metade do lanche pra pra outro. Poucas vezes vi alguém se divertir tanto pra comer um sanduíche.
Eles se lambuzam, se acarinham, tomam coca-cola, e não tem um que passe e não olhe para os dois amigos. Alguns com certa indiferença, é verdade, outros, como eu, olham divertidos e intrigados, e ainda aqueles que olham com certa repulsa em ver como os dois são iguais, cão e menino, menino e cão.
Por algum motivo, não sei qual, o jovem se ausentou por alguns minutos, provavelmente para ir ao banheiro, ou coisa assim. Foi então que vi o desespero de seu amiguinho, o olhar perdido, o medo de seu companheiro não voltar mais.
Olha, talvez para a maioria de vocês eu escrever sobre isso não faça o menor sentido. Talvez todo mundo veja a todo dia, a toda hora, garotos com cães, dividindo lanches e brincando na rua. Talvez ninguém entenda porque tal cena mexeu tanto comigo. E tá tudo bem, eu não me importo, afinal, eu também não sei ao certo porque tudo isso me comoveu. Mas comoveu, e ainda bem que comoveu, porque na maioria das vezes eu só preciso disso. Uma simples imagem de uma criança brincando com um cão me acorda pros inúmeros acontecimentos fantásticos do mundo.
O mundo não vai parar porque alguém partiu seu coração, ou te disse alguma coisa feia, ou te decepcionou, ou porque as coisas não saíram do jeito como você estava planejando.
Existem centenas de garotos que continuam brincando com seus cachorros, e se refrescando em um dia quente de fim de verão. O mundo não vai parar, as coisas lindas estão aí, e o sofrimento, na maioria das vezes é puramente opcional.
Obrigada ao acaso, por ter me colocado estes dois simpáticos seres no caminho, e é claro, obrigada a eles, por me lembrarem de como é bom sorrir a toa em uma terça-feira a tarde :)