quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Por dentro.

Aqui estão os olhos de meu pai quando eu contei que passei no vestibular. As músicas que já cantou pra mim. Nós dois no carro ouvindo vento no litoral. A minha sala do terceiro ano cantando Como nossos pais, na platéia. O abraço do meu irmão. Sua boca toda suja de chocolate. A primeriva vez em que ele leu um livro pra mim. O quadro do Charles Chaplin que vou guardar com todo amor do mundo até Janeiro de 2011. Cartas, bilhetes, fotos e um milhão de códigos e segredos. Aqui está aquele caixão sendo engolido pela terra. O cheiro inesquecível daquela casa, toda sexta-feira. O barulho de uma bola batendo na parede enquanto eu tentava estudar física. Aquela amizade que era meu grude na sexta-série. A primeira grande decepção. A fuga das aulas de educação física. As lágrimas escondidas no banheiro. Um diário chamado Meggie. Meu primeiro beijo. Meu primeiro namorado. Meu primeiro grande show. A primeira vez que andei sozinha de metrô. A primeira vez que cheguei em casa quando estava amanhecendo. Meus primeiros dias de aula. Meus últimos dias de aula. Meu melhor amigo. As férias na infância. Os teatrinhos com os primos. Polícia e ladrão. Casinha de bonecas montada na sala. Casinha de bonecas montada na casa inteira.
O dia mais triste da minha vida. O dia mais feliz. A primeira grande banda favorita. A segunda grande banda favorita. A eterna grande banda favorita. Músicas que me fazem rir. As que me fazem chorar. As que simplesmente me fazem. As mil fotos em um único dia. Ouvindo Death Cab for Cutie na beira da piscina. A música que já escreveram pra mim. Minha eterna paixão de verão. O menino mais detestado de todos. As mentiras contadas. A vergonha sentida. A primeira encostada de ombros. O celular dormindo ao meu lado. A presilha do lado de cabelo. O cobertor Rafael. Oswaldo Montenegro. Balão mágico. Marisa Monte. Uma. Duas. Três. Eu vou levar estas pra sempre. Este aí também, que me entende como ninguém. Aquele amigo imaginário. A boneca vitória. O Amarildo. Alffie o eteimoso. A casa de bonecas ignorada. A camisola de sapos. O chaveiro de cachorrinho. O bidete. Nossa inhonhola. Dois pintinhos. Piu-piu e Roberto. Zeca. Um grande quintal. A banheira da suíte da vovó. Batata-frita. Quartas-feiras cinzentas embaixo das cobertas vendo filmes que eu não entendia coma vó marcinha. Seus olhos verdes. Seu cheiro bom. Seu sorriso. Os vídeos que minha mãe me manda diariamente. Sua voz rouca no telefone. Seus mimos. Meus tios, que são grandes super-heróis. As fotos no painel da vovó Lina. Seu bolinho de chuva. Suas panquecas. Suas unhas enormes e baixa estatura. Os olhos da tia Sandra. As poesias da Letícia. O sorriso da Lívia. As horas no telefone com a minha amiga holandesa. Suas belas histórias sobre o mundo que ainda não conheço. Um palhaço. Um amor por palhaços. Um desejo secreto de virar groupie. Cheiro de rosas. Libélulas. Pinguins. Diversos chingamentos. Amigos de verdade. Sorte, muita sorte. Sensibilidade extrema. Se alguém apanha alguém atravessando o campo de centeio. Psicologia. Tomaz. Tereza. Os Saltimbancos. Horas na frente do espelho com uma escova na mão e os fones de ouvido. Insegurança. Poesia. Discos de vinil. A velha vitrola herdada de meu pai. Baratos e afins. Vermelho. Minha vida antiga. O meu primeiro dia no meu primeiro emprego. A casa verde. O caminho feito todos os dias, dirante um ano inteiro. A cabeça baixa pra se esconder dos outros. A casa enorme da amiguinha de infância. A inveja das bonecas que eu não tinha. A admiração pela prima mais velha. Bobó de camarão. A viagem pra Atibáia. Santa Catarina. Seis anos de Skill. O colégio em que fiz amigos de verdade. A saudade. A auto-estima um tanto baixa. A vontade de sair correndo na chuva, quando ela começa a cair. A vontade de fazer o caminho pra casa sozinha, só pra ir ouvindo música. As crises. Explosões. A menininha sorrindo no metrô. Shows do Cachorro Grande. Uma caixa com tesouros. Uma alma de criança. Gostos secretos. Música britânica. Música brasileira. Elis Regina. Lígia. Cecília. Rita. Iolanda. Maria. Carolina. Angélica. Luísa.

Cada pessoa é um universo diferente.

Não que você se importe com isso. Ninguém se importa, afinal.

2 comentários:

Unknown disse...

Me importo. Verdadeiramente. Meu amor, morri de chorar por não poder te abraçar nesse momento, agora, já.

Jenny Souza disse...

e eu aqui na servia, sei la do outro lado dos lados, e com voce no coracao, obrigada por esse texto, nesse momento.
me fez arrepiar, muito.
amor que atinge a estratosfera.