domingo, 28 de abril de 2013

A dois

Um mais um é igual a dois
porque dois é melhor que um
porque quando dois vira um
a gente perde a melhor parte do outro
e a nossa também.

A dois a gente se enlaça
se abraça
e se morde

A dois eu posso ser um
sendo um mecho no teu cabelo
te deixo brabo
e te amo

Dois é melhor que um
porque é bom dormir sozinho
sabendo que dá pra ligar assim, do nada
no meio da mabrugada
é que deu saudade do teu cheiro
e do teu peito colado no meu rosto
servindo de travesseiro

Dois é melhor que um
porque você 
não é metade da laranja
porque você me surpreende
porque sempre dá pra conhecer mais
e gostar mais
amar mais ainda

É que quando um quebra
outro um empresta o ombro
o corpo 
e a alma

É que se um quebra o outro um não quebra junto
dá pra ajudar a colar
até quebrar de novo

Você não é o que me falta
e sim aquilo que acrescenta
porque quando um mais um é dois
um é um inteiro
e te quero inteiro mesmo, te amo inteiro
e não pela metade

terça-feira, 16 de abril de 2013

Lembrete:

E lá está ela procurando pessoas pra preencher o buraco dentro de si
Não percebe? Não percebe mesmo? Nada vai tapar esse furo, esse abismo de blá blá blá que ninguém aguenta mais ouvir. O buraco é teu. O buraco é você inteira.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Para aquilo que não tem nome.

Quando você nasceu eu tinha dez anos. Assim, dez anos, as duas mãos completas, que nem você tem agora.Nem sei se sabia o que era amar direito. Achava que sabia até te olhar pela primeira vez. Entendi porque é que minha amiguinha da escola achava tão legal ter um irmão, e fiquei me martirizando por achar toda aquela situação uma porcaria, até então. Você era mais vermelho do que um morango bem docinho, e nem conseguia abrir o olho miudinho. Logo que te peguei no colo, assim, com jeito de gordinha desajeitada, você chorou, e eu pensei que estava me culpando por não ter sido muito receptiva com você quando ainda estava na barriga da mãe. Aí depois foi se acostumando ao meu jeito de não saber segurar um bebê, e eu lembro que a mamãe tava muito bonita na cama do hospital. Fiquei com medo de te derrubar e devolvi você pra ela.
Odeio essa história de meio-irmão. Acho um nome feio e muito infeliz, porque, afinal, você não é cortado pela metade, certo? Você é meu irmão por inteiro, assim, todinho, com pintinhas no rosto, olhos verdes, cabelo espetado, barriguinha de verme e tudo mais.
Depois moramos por um tempo juntos, acho que por um mês só. Acho, na verdade eu não me lembro direito. Mas lembro de você, correndo com o andador pela casa, me olhando com olhos cada vez mais grandes, brilhosos e pidonhos  Não sabia lidar direito com um nenê, naquela época... E acho que ainda não sei lidar direito com você agora, às vezes sou chata demais, me desculpe. Às vezes preciso ser, viu? Você anda muito folgadinho, e eu ando irritadiça, você sabe. Na verdade não, né? Não tem culpa disso. Aliás, se alguém nessa história não tem culpa de nada, só pode ser você.
É que toda vez que eu vejo uma foto sua eu choro. É sério, eu choro mesmo, que nem eu tô chorando agora. É que da saudade do que a gente não viveu junto. É que dá vontade de ter estado com você no seu primeiro dia na escola nova, de ter visto o primeiro dentinho nascer e de ter sido sua cúmplice nas horas que você teve medo. Fui uma irmã mais velha com pouquíssimos méritos e você, ainda assim, me ama. Como pode vir me abraçar tão gostoso toda vez que eu abro a porta da casa de vocês? Porque é assim? Eu se fosse você estaria muito brabo com uma irmã  que fez a trouxinha de roupas e foi embora quando eu mais precisava. Mas você me ama, me ama e quer minha opinião, e quer deitar no sofá comigo, saber o que eu tô assistindo, e me contar do livro novo que leu. E nessa hora meu coração se esfacela e eu não consigo me concentrar em mais nada, me perdendo em devaneios e nostalgias penso em como pode existir uma criatura perfeita e tão pequena, assim, bem desse jeito que você é, com um corpinho magro e frágil pedindo uma proteção que nunca dei. E parece que esse corpinho não desiste e me quer por perto, mas continuo não atendendo às expectativas e vou embora. Fecho a porta e vou mesmo. Agora não dói mais tanto pra você, que já viveu a pior parte de ser criança, agora que descobriu o computador e se virou sem a minha ajuda. É justo, eu não te culpo e ainda vejo o mesmo amor que sempre sentiu, quando me olha nos olhos. É que, olha, pra mim, cada vez dói mais um pouco. Tá mais alto, engordou, foi bem na prova. Mais coisas que perdi. Pois é, mais uma foto de mais um aniversário ao qual não fui. E as ausências se multiplicam e eu choro. Tenho medo menino, medo do teu futuro e medo de essa coisa de não saber mais viver sem você me enlouquecer qualquer dia desses.
Desculpe não estar aí em mais um dia da tua rotina, da tua vida que tá cada vez mais tranquila e, por isso, até tentofazer uma reza desajeitada, aquela de quem nem sabe pra quem tá rezando, e agradecer. Corre, porque agora você gosta de jogar bola. Faz a lição de casa, pra depois você poder jogar videogame. Vai ler um livro que você tanto gosta, que eu espero, aqui do outro lado, que um dia você possa me perdoar pela irmã que eu não sou e possa saber que não existe coisa mais forte nesse mundo do que aquilo que você me faz sentir quando me espera na porta do apartamento. É sério. Obrigada, pentelinho, você é a pessoa com quem mais aprendi nessa vida que eu levo, de quem não sabe pra onde vai.