sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Quinta-feira

Sentado ao meu lado havia um homem, homem que tinha um dos olhares mais tristes que eu já vi.
Ele não dizia nada, nenhuma expressão em seu rosto além da evidente tristeza. Tristeza que transbordava.
Ao redor, pessoas cantando: Algumas com profunda alegria, outras para curar uma ferida secreta e ainda outras que em momentos de angústia e vazio cantam, numa busca desesperada pela fé. Todos cantando, mas ele calado. Calado e triste, triste e calado.
Escrevia algo, um longo texto, e apoiava o pedaço de papel com muita dificuldade, tomando cuidado para não fura-lo com a caneta.
Me pus a pensar o que fazia esse homem tão triste. Ele exalava uma solidão desoladora, daquelas de ter vontade de leva-lo embora para garantir que o sentimento de abandono nunca mais se manifestasse em seu ser.
Puxa, como eu adoro essa música! Lágrimas escorrem, assim como a chuva escorre lentamente pela janela lá fora.
Canto por mim e por todas as almas do salão. Mas acima de tudo, canto pelo triste e solitário homem sentado ao meu lado, que está a escrever, sem parar.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

As aventuras de Cucupi.

Quando eu era bem miudinha, mas bem miudinha mesmo, meu pai costumava inventar histórias para me fazer dormir.
Só conheci a Bela adormecida e a Branca de neve quando, mais pra frente, começaram a me presentear com fitas de vídeo e tudo mais. Antes disso, só ouvia contos extremamente originais, inventados pelo meu maior herói.
Existiam vários personagens, mas dentre eles, o meu favorito sempre foi uma simpática minhoca chamada "Cucupi", que vivia no cantinho do tronco de uma árvore e passava por muitas aventuras na floresta.
As histórias eram sempre diferentes e eu costumava guardar todas, fala por fala, na minha memória. Isso era um problemão pro meu pai, afinal, o fato de eu sempre lembrar da história completa não significa que ele também lembrava.
É claro que, como a maioria das crianças, eu pedia pra ele contar a mesma história pelo menos mais umas três vezes e é claro que ele não lembrava tudo nos mínimos detalhes, como eu sempre fazia.
Acabava que no fim das contas era eu que contava novamente as aventuras da Cucupi pro meu pai, que lembrava apenas de 10% da história que ele mesmo havia inventando.

Sinto falta desses dias em que a minhoquinha Cucupi era a maior alegria que eu poderia ter.
Eu cresci, treze anos se passaram, e ainda tenho a serelepe Cucupi viva em minha memória, rastejando pelo chão da floresta :D

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Cornélio Fudge

Hoje notei uma incrível semelhança entre meu professor de biologia, Gerson, e o ministro da magia, Cornélio Fudge.
Agora, toda vez que o professor entrar na sala, vou imagina-lo usando um chapéu coco verde-limão. Isso tornará as aulas bem mais divertidas :D

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Menininha

A menina no homem
O homem na menina
A menina ri, chora, ora
A menina no homem alfora
Encantada ela olha os brinquedos
Não pode toca-los, mas brinca
brinca com seu olhar atento e puro.
O homem não sabe pra onde ela iria
O homem não sabe de onde ela foi
Não sabe seu nome, desconhece seu físico
Só sabe que ela ri, chora e ora
E que eu seu ser a menininha alfora.
Nada sabe dizer, em nada pode mexer
Engatinha pelo chão do apartamento vazio
O homem lhe acompanha, emprestando mente e corpo
Alma, a garotinha já não pode mais ter.
A menina ri, chora, ora
A menina no homem aflora
Por fim ela cumpre sua missão
E ainda com aquela inocência de quem pode contar 
a idade nos dedos das mãos,
a pequenina vai-se embora.

A paz reina, no apartamento vazio.