domingo, 18 de dezembro de 2011

Procura-se


Procura-se a junção de passado, presente e futuro, mas só do melhor aspecto de cada um. Procura-se uma alma mais estabilizada, menos angustiada pelas pequenezas do ser que habita. Procura-se sossego mental por pelo menos meia hora.
Procura-se um coração que permita melhor aproveitamento do tempo com aqueles que ama. Que seja seguro, sua batida firme, serena e que se saiba muito bem quem merece algum esforço seu. Que saiba quem é que traz alegria.
Procura-se um lugar que possa ser chamado de "meu" e que seja completo, aconchegante, abarrotado de lembranças doces, expectativas, discos de vinil e saudade. Que nele possam caber aqueles pra quem se diz "eu te amo".
Procura-se o tão falado "crescimento espiritual".
Procura-se a coragem e que a covardia se exploda em algum lugar bem longe. Procura-se o altruísmo absoluto, a segurança e o querer bem.
Procura-se uma solidão bem vinda, o gostar sem pedir nada em troca, o orgulho e o carinho que saem de dentro e explodem pelo mundo.
Procuram-se vozes doces de consolo imediato, procuram-se aqueles que nos deixam saudade depois de segundos de sua partida. Os quero agora. Os quero o tempo todo. Quero pra sempre. Sempre.
Procura-se a melancolia que faz crescer e a alegria que faz explodir. Procura-se tempo de sobra. Procura-se todo o tempo do mundo.
Procura-se o desapego aos bens materiais. Procura-se a alegria por existir apenas. Procura-se o existir apenas.
Procura-se o não se machucar, o não machucar ninguém.

Procuro a mim mesma.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Sobre as despedidas.


E lá se foi mais um.
Não tenho mais quase um ano inteiro do resto de minha vida,falta pouco agora, e é inevitável não escrever um texto clichê de fim de ano.
É mais inevitável ainda se foi este um ano que me fez sentir tão viva, em que me percebi amadurecendo e fazendo coisas acontecerem.
Um ano que me fez ir de encontro com o que eu já não acreditava mais que pudesse acontecer. Me percebendo no lugar certo, na hora certa, cercada pelas pessoas certas, pessoas que mudaram inevitavelmente minha vida, minha forma de ver o mundo, me expandiram a alma.

Agora o crescer e inevitável. Já aconteceu. Cresci, pronto.
E as dúvidas, dores, angústias e tristezas foram, como de costume vividas em altas doses de choro e desespero, o medo de dar errado, de estar errada e de tudo desabar. Como todo o amadurecimento e mudança devem ser, não foi sem uma pitada de dor que este ano foi vivido.
Tudo isso assusta, mas me abre um campo de possibilidades e seguranças que pensei que não seria capaz de alcançar.

A melancolia de saber como tudo é passageiro, efemero, como tudo é sopro, é pluma voando pra longe com apenas uma brisa levinha, levinha. É ver gente que vai, gente que chega, que não consegue ir. Fica.

E o mundo eu não controlo, o tempo eu não paro e da vida nada sei, mas se pudesse, eternizava tudo isso, ou faria 2011 durar ao menos mais doze meses.

Nunca fui boa em despedidas, nunca soube abrir mão das coisas. Arrumar as malas hoje, dentro deste apartamento agora vazio, mas que outrora esteve povoado por vozes, gritos e risadas das meninas com quem dividi grande parte do meu 2011, me trás uma enxurrada de sentimentos que nem se eu tivesse vontade de explicar, conseguiria. Meu sentir não cabe em mim, e muito menos entre as paredes deste apartamento.
Não cabe nem no mundo.

Feliz ano novo.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

De mãos atadas.

Eles ainda estão lá
Quem sabe agora, sofrendo tudo de novo
Quem sabe todos os dias

Seja bem-vinda ao mundo real
É feio, não?
Diferente de todo o castelo de bonequinha
que você construiu quando era pequena

Fora do castelo lá estão todos eles
Toda a podridão e perversão
Seus possíveis castelos, irremediavelmente destruídos

Seja bom, seja mau
Seja bom? Seja mau?
Inocente ou já calejado pela vida
Ainda lá, e ainda despreparado para enfrentar
A invasão daqueles que provavelmente
Deixaram a alma em algum lugar e esqueceram de buscar


Não me fale de escolhas, relativismo, personalidades
Não me fale disso
Não tenha voz para argumentar uma tentativa de compreensão

Você não é um deles
Eu não sou um deles

Nunca entenderemos o desespero daqueles que gritam baixinho

E eles continuarão exatamente onde estão.

domingo, 18 de setembro de 2011

Sobre o pessimismo

Tem sempre aquela intuição que não nos deixa enganar. Por mais que os pensamentos racionais lutem para nos invadir, por mais que queiramos isso, a intuição e a angústia vem deixar bem claro, "aqui não".
É realmente devastador perceber que em quatro anos não se evoluiu nada. NADA.
Toda a segurança e fortaleza que você pensou ter construído dentro de si, na verdade têm a leveza de uma pluma, e olha como elas já voaram pra longe.
Parece que nunca estiveram aqui.
E sim, todas as noites sem dormir não te serviram de aprendizado, parece que a vocação para o masoquismo nunca esteve tão aparente.

-Faça suas malas, vá embora. Corre pro colo do teu pai, dos amigos que te querem bem e leva contigo só o calor do abraço acolhedor e olhar receptivo daquele com quem você compartilha tua vida.
-Não posso. Pra que deixar toda essa dor para trás se posso vivê-la e remoê-la agora?

The dog days are coming.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Para não esquecer.

É preciso lembrar do brilho. Talvez esta seja a mais difícil dentre todas as tarefas, mas é preciso.
Lembrar-se das coisas geniais que a cercam, e que se estas o fazem, é por um merecimento que por diversas vezes ela pensa não ter.
E mesmo que seu mundo e sua paranóia a joguem pra baixo, e mesmo que os seus demônios internos, com quem luta diariamente, insistam em dizer que ela não é digna, que não é boa, que não vai dar certo, ainda sim é preciso lutar para melhorar. É preciso olhar para dentro de si mesma e achar o que de belo está escondido, mesmo que seja na mais íntima e esquecida parte de si mesma.
Ter o tempo todo a certeza de que pode estar sozinha no fim do dia, no fim dos pensamentos, dos delírios, dos sentimentos. E que isto não é ruim, não é. Ela deve se bastar.
Conquistar a sabedoria, a capacidade e a bondade de sorrir para quem a quer mal. Sabe que esta aí é uma coisa complicada de conseguir, mas ao menos tentar não se deixar atingir pelos pobres de espírito e de coração.

É preciso, sim, é preciso que ela repita para si mesma que merece tudo que tem. Que é especial, que tem seu valor, que tem as melhores pessoas e oportunidades do mundo... e acima de tudo, é preciso que ela não se deixe abater, e faça por merecer tudo o que a vida graciosamente lhe deu.

A luta diária.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Entre estas quatro paredes

Onde tudo começou.
Quando eu ainda nem sabia que a vida era a vida, que mamãe era mamãe, papai era papai,que e meu quarto era meu. Mesmo quando eu não sabia...ele já estava lá.
Minha história entre estas quatro paredes começou quando eu ainda era nova demais para saber como este era o meu refúgio perfeito.
Diários escondidos, medos secretos de olhar em baixo da cama, a parede vermelha, a mudança dos móveis, o Scooby-doo, brincadeiras de boneca, o Alfie, o Baby, Cucupie e Mico, as conversas nas noites infinitas com as melhores amigas que a época me proporcionou.
A alegria de ter a minha própria vitrola, meus discos, ouvir estes discos, nesta vitrola, com as pessoas mais inesquecíveis da minha vida. A antiga rede montada, os filmes da disney e as horas ouvindo as bandas favoritas no rádio das meninas super poderosas.
Os estudos desesperados na última hora, os amigos sempre prontos para ajudar. Pizza de chocolate, fanta uva e pipoca.
A semanal mudança de fotos no mural, a vontade de ficar no quarto pra sempre.
As noites em que o travesseiro, também companheiro de longa data, abafou os soluços e sentiu o salgado gosto das lágrimas de uma pequena versão de mim, que por tanto chorou. Ah, como a ouviu chorar, este velho quarto.
Viu-me crescer, e tornar-me mais forte. Acompanhou as mudanças de gostos, ideais, e até uma ligeira mudança na aparência.
Nele coube o primeiro amor, o grande amor, os amores passageiros. Colegas, amigos momentâneos, amigos de longa data, não mais amigos, amigos pra vida inteira.
Nele couberam os filmes favoritos, os livros e poemas, as cartas e bilhetes que levo comigo pra sempre.
Coube a Luísa fraca e imatura, a Luísa egoísta, a Luísa ciumenta, a Luísa arrependida. A Luísa Sorridente, feliz. A apaixonada e a desiludida. A Luísa ansiosa, a nervosa, a desesperada, a exagerada.
A Luísa que cresceu, que agora compreende. Uma Luísa mais madura, ainda com muito a aprender. A Luísa criança.
A Luísa eternamente criança, crescida, sempre contraditória e em constante movimento.
Este meu refúgio em todas as fases, mesmo com todas as transformações, mudanças e contradições,sempre esteve lá pra mim. Sempre.

E agora estará lá para outra pessoa, uma completa estranha, que, seja lá quem for, tem muita sorte. E espero que cuide deste meu companheiro da vida toda.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Descobrindo Universos.

A mesma sorveteria, ao menos uma vez a cada duas semanas. O mesmo homem de sorriso terno, pouco mais de 50 anos, boné na cabeça, avental alvíssimo e um oclinhos escondendo um olhar que mais tarde se revelará saudoso e sonhador. Uma gentileza sempre sincera e piadas casuais de dono de sorveteria. "Boa noite". "Obrigada". "Volte sempre".
Tenho o péssimo hábito de ser levada pela rotina. Vez por outra penso estar ficando com o espírito de um adulto, ouço menos música, falo menos sobre as pequenices da vida, escrevo menos no meu blog e acabo esquecendo que cada pessoa é um universo inteirinho, único.
O bonito, bonito mesmo, é que sempre que isso acontece, sempre que eu resolvo ficar velha,a vida me aparece com todas as suas coisas bonitas, e dá um jeito de me enviar um sinal. O dessa vez foi ele, o dono da minha sorveteria favorita.
De repente, fui honrada com um pedacinho do universo desse homem, que se abriu, fundiu-se com o meu, e esse partilhamento de alegrias surgiu de um mero detalhe, que me acompanha sempre, tanto que vez por outra me esqueço dele.
Então é isso, da imagem estampada na bolsa favorita, imagem essa da banda favorita, vem o comentário, e do comentário surge a conversa, a surpresa, o sentimento de culpa por subestimar tanto os universos bonitos das pessoas, por não percebe-los, e a alegria de poder, de repente, ter a percepção destes universos uma vez ou outra. Surpreender-se.
O dono do melhor sorvete de morango da Galáxia, sim, ele mesmo. Ele fez serenatas para suas namoradas, tocou Taiguara, Chico Buarque, Toquinho, Vinícius, e conheceu todos eles na época em que trabalhava na rádio de Assis. Viveu na época da ditaruda, curtiu rock 'n' roll de qualidade. Gosta do Paul, dos Beatles, Pink e Floyd e todas essas bandas geniais. Sente-se triste pela geração de seus filhos, que não tem pelo que lutar, e que não quer lutar por nada. Lamenta a música brasileira, que só sabe divulgar aquilo que não presta.
Talvez exagere um pouco ao contar suas histórias, e isso é plenamente compreensível. Todos nós queremos deixar o nosso universo mais belo e especial do que ele já é.
Indicou-me programas da TV Cultura, contou-me da sua coleção de discos de vinil e me disse o quanto era legal que eu gostasse das mesmas coisas que ele.
Comentei que eu provavelmente tenha nascido na época errada. Ele concordou.

Saí da sorveteria com vontade de chorar de alegria, agradecendo muito à vida por estes puxõs de orelha.
E por cada um de nós sermos universos incríveis a serem desvendados. Incríveis.



Obs: Obrigada meu bem, por ter partilhado esse momento comigo. E por ter sentido o mesmo que eu.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

I know it's over

E então você percebe que a menina da oitava série nunca foi embora. E isso te atinge como um soco no estômago, e dói mais ainda do que da primeira vez.
Talvez doa porque agora voce descobriu que não aprendeu coisa alguma desde os fatídicos dias de 2008. Continua sendo a mesma carente, dependente e insegura de sempre.
Acho que no fim ninguém nunca aprende droga nenhuma e depois de um ponto da vida a gente estagna e continua com os mesmos principios, manias e essência pro resto da vida.
O nó no peito é terrível.
Ninguém morre de ansiedade e angustia, dizem por aí. É, talvez não se morra mesmo, mas a dor do aparente abandono parece que vai te matar a qualquer momento.

terça-feira, 29 de março de 2011

Aos seis.

Quero voltar a enxergar com meus olhos de criança. Pensar situações, resolver conflitos, comer, dormir, olhar para cada coisinha que esteja no meu campo de visão. Quero tudo isso como quando tinha seis anos de idade.
Mas não sou mais tão criança, a ponto de saber tudo! Sendo assim, me esforço severamente, e mais constantemente agora, nestes tempos de tempestade, para tentar pensar no que a sábia Luísa, aos seis, faria.
O ciúmes, a raiva, a tristeza, a euforia, a insônia... Tudo isso se manifestaria de uma forma mais simples, crua, clara. Talvez até um pouco menos dolorida. Talvez angústias bobas e angústias sem razão aparente até perdessem seu significado.
Tudo se tornaria secundário, e essa Luísa sairia no quintal da sua casa favorita, para tomar um banho de chuva.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

E se...

...Eu nunca tivesse saído de casa? E se eu ainda morasse no meu apartamento antigo? E se tivesse tido menos sorte nessa prova falha? E então, se eu tivesse feito um ano de cursinho? E se eu nunca tivesse tido todas estas experiências e passado por todos estes apuros? E se meu pensamento continuasse pequeno e limitado? Então não teria feito todos estes amigos e conhecido tantas pessoas, e amadurecido tanto, e não teria levado alguns belos socos da vida. Não teria sido sacaneada, e não teria recebido ajuda das pessoas que eu menos esperei.
Então eu nunca iria ter te conhecido. Nunca saberia sequer da sua existência.
Nuca teria derramado lágrimas, nem provocado tantas outras...não saberia o que é amar de verdade. Não saberia que a alegria é pra mim possível, e que eu posso sim ser feliz e correspondida no amor. Não saberia fazer planos a longo prazo,não saberia imaginar uma vida futura, não teria conhecido tantos lugares e aprendido tantas coisas.
Continuaria com o mesmo grupo limitado de amigos, do qual hoje eu sei que poucas pessoas fizeram por merecer, e estão comigo até hoje.
Não estaria deitada nesta cama, com estes textos em minhas mãos, pensando na aula de amanhã. Não pensaria que tenho de ir ao banco e ao mercado, que tenho contas a pagar, que não posso decepcionar os outros, e que tenho de me policiar para não me tornar o monstro que mais temo ser.
Não saberia o que é sentir a dor física da saudade, nem saberia valorizar tanto o telefonema de uma amiga. Não sentiria essa saudade estúpida do arroz do meu pai. Talvez fosse menos sensível. Talvez não.
Tenho muito o que aprender, e o acaso vai me guiar por suas linhas tortas e inesperadas. Acaso e destino, porque acho que os dois andam juntos.
E talvez amanhã tudo isso tenha mudado, e eu seja uma pessoa completamente diferente.

Talvez tudo isso seja um longo sonho, em uma tarde inquieta e chuvosa.
Luísa, open your eyes.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Feliz é a inocente vestal...

...esquecendo o mundo, e sendo por ele esquecida.

Então acontece de vez em quando, de eu virar uma inocente vestal. Só não tenho muita certeza quando ao "feliz".

Um grão de areia aos poucos misturando-se a outros milhões de grãos de areia, sendo desfeito pela maré que sobe, impiedosa. Esquecendo o mundo, e sendo por ele esquecido.
Ninguém sente falta do grãozinho que se foi, sumiu, desapareceu. Fora engolido pelo mundo pra sempre.

O brilho eterno de uma pessoa esquecida. O brilho eterno das mentes sem lembranças.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Entre uma e outra estação(...)

As rugas dos olhos pastosos sorriram. Em seguida sorriu o sorriso de dentes tortos e alvos, sentados na cadeira preferencial do metrô.
O senhor com pouco mais de setenta anos, apoiava os braços em sua bengala antiga, de uma elegância esquecida, em um gesto lento e cansado.
Permanecera durante quase todo o nosso trajeto com a expressão rígida, e um ar sério, grave, talvez com os pensamentos em sua época de moleque jogador de bolinhas-de-gude e batedor de bafo, de aluno levado que se escondia embaixo da mesa para olhar a saia da professorinha. Talvez pensasse em uma finada esposa, ou um antigo caso de amor. Pode até ser, porque não? Que estivesse a pensar nos netinhos a quem estava indo encontrar para o almoço de domingo.
Tentei buscá-lo com o olhar, incansavelmente. Tinha a nítida impressão de que se conseguisse atrair sua atenção, e se trocássemos olhares, nem que fosse por um segundo, poderia adquirir uma porção pequena de sua sabedoria. Leria seu olhar e então entenderia sua história, a história da bengala, da camisa desbotada, das veias azulíssmias, saltadas do pescoço branco, e da boina preta. Veria sua esposa, seu primeiro emprego, o veria menino, correndo para o colo da mãe, com medo da chuva.
Não pude mais prestar atenção em meu livro, em minha música, nas estações que passavam. Queria apenas lê-lo, conquistar sua simpatia, quase como que eu uma espécie de hipnose momentânea, não conseguia desviar o olhar.
E meu velho companheiro permanecia impassível. Intocável.
Dei-me por vencida, era isso. Conformei-me apenas em imaginar sua vida, como já fiz tantas vezes com tantas almas que passam desapercebidas pelas ruas, sem que se note seu brilho.
Então, aconteceu. Quase como um milagre, o dono da bengala desviou o olhar para o assento o lado do meu. Um velhinho, de aparência um pouco mais jovem do que a do primeiro, acabara de sentar. E como se houvesse uma identificação imediata, trocaram olhares, sorrisos, e fim. Cúmplices.
Parceiros de histórias e experiências, identificaram-se e cumprimentaram-se, como se dissessem um ao outro "Hey, sei como você se sente. Sei que a solidão dói. Seus olhos já estão embaçados, seus ossos estão mais fracos, a paciência encurtou, a memória também. A saudade é maior companheira, e o medo da morte aumenta a cada minuto, eu sei". A fração de segundo com que se olharam e se desencontraram, foi o suficiente.
Hora de descer. Levantei-me, emocionada por ter sido testemunha deste gesto de cumplicidade mútua e breve, pensando em como a vida é bela, e em quantos encontros silenciosos e bonitos podem acontecer em um vagão simples de metrô.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

É que hoje eu acordei com saudade...

Parece estar sempre sorrindo. Sempre. Mesmo quando está triste ou nervosa, seus olhos risonhos não mentem. Essa eterna criança que ama viver, mais do que qualquer um que eu conheça, não tardará a sorrir novamente, o sorriso mais sincero que já vi.
Havia uma escola de inglês, e uma menina imatura. Havia uma professora especial, e então, a afinidade, a vontade de ficar horas e horas conversando depois das aulas, um convite para um jantar, um jantar, um jantar de onde nasceu uma amizade.
E então vieram presentes e discos, desabafos e conselhos, dicas, brigas, lágrimas.
Ela diz que eu a ensinei a abraçar, pois eu digo que ela me ensinou a viver. A viver e a saber que o mundo é sempre muito maior do que eu penso que é, e que sorvete de yogurte e o sorriso de uma criança dentro de um metrô cinzento estão entre as melhores coisas dessa vida. Ensinou que a Europa pode ser aí do lado, tudo depende do tamanho do seu sonho, e da sua determinação. Me ensinou a deixar o espelho de lado e a olhar pra dentro de mim mesma. Deu-me filmes, músicas, um show inesquecível, e passou a ser uma das minhas maiores referências como pessoa.
Uma saudade absurda durante um ano todo, e o medo de perde-la para o mundo... E antes de toda essa infinidade de coisas, me presenteou com a alegria de saber que se eu quiser, sim, poderemos ser eternas crianças, e que esse mundo que nós fizemos e é nosso, só nosso, vai durar para todo sempre.
É que hoje acordei com saudade, e com a incontrolável vontade de te dizer o quanto você é especial. E linda. Muito linda.
Tô sentindo meu peito explodir de amor nesse momento, até dói. E a vontade de te abraçar atinge a estratosfera.

Tô te esperando.
Volta logo, Tangerina.