Hoje é dia dois de outubro. Percebi que posso contar nos
dedos as vezes em que olhei o calendário, neste ano. Agosto demorou dois
séculos inteirinhos pra passar, e do mês do desgosto pulou-se direto pra
dezembro. Setembro fugiu, saiu correndo. O que fiz com ele? Assustei-o com o
meu descaso? Queria que ficasse um pouco mais...
No calendário não reparo, mas no relógio digital que fica
logo ao lado pouso meu olhar todos os dias, o tempo todo. Relógio, aparelhinho
que me controla como nada mais consegue, fruto de todas as minhas angústias e
de todo o meu desespero. Não para. Pressa pressa pressa pressa pressa!
Quando foi que cedemos? Quando foi que caímos direitinho na
armadilha de não-sei-quem e colocamos esse tic-tac incessante em nossas vidas?
Porque meu dia não pode ter quantas horas me forem necessárias para fazê-lo
completo?
Neste ano que já acaba vejo tanta gente indo embora... Vou
embora de mim mesma e vão embora de mim. Vou embora dos outros também, mas dá
uma vontadezinha de ficar...
Uns que vão para longe, sei que voltam sempre, e que me
chamam, caso a saudade aperte o peito. Outros vão para a esquina, mas para
estes meu olhar e sentimento nunca mais serão os mesmos. Partidas e partidas e
fica sempre o arrependimento de poder ter feito isso ou aquilo diferente.
Talvez a falta de tempo não tenha me deixado pensar um pouco mais. Só um pouco.
Queria quebrar o relógio, para fazer os segundos
cristalizarem-se nessa madrugada.
Paralisa tempo, paralisa até que o sono volte, até que a
ferida feche, até que eu me faça forte. Paralisa, porque amanhã você é cruel e
não me deixa viver o dia bonito lá fora. Paralisa, porque se não amanhã perco a
hora, e é dia de acordar cedo.
Um comentário:
A gente sempre vai e volta, mas fica. O tempo passa e as horas do relógio se renovam a 12 horas, como se fossem novas. Não levam consigo o peso e a graça de cada momento.
O momento é o segundo que dura o tempo da gente.
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