Começou a chover.
A
garota que se concentrava ao máximo em seus cadernos e anotações, parou para ver a chuva.
Da
janela ela assistia de camarote os pingos enfurecidos arremessarem-se para todos os lados, chocando-se uns com os outros, numa dança
descoordenada e
incrivelmente bela.
Quis de todo o coração poder estar lá fora, na chuva. Quis ser a chuva.
Desejou ser um daqueles pingos fracos e pequenos, que junto de outros milhões de pingos, também fracos e insignificantes, fazia-se forte e ameaçador.
Desejou ser aquela água gelada e cortante, que na palma de sua mão parecia-se com pequenos alfinetes espetando-lhe a pele.
Ah, a garota daria tudo o que ela
possuí para dançar louca e despreocupadamente, como aquela tempestade dançava. Uma valsa de imensa beleza e imponência.
Sua fraqueza e seu medo se esconderiam, na força daquela água que jorrava céu abaixo.
Por quanto tempo esteve a observar a chuva? Não sabia.
Preoucupou-se com o horário, precisava terminar de estudar.
A chuva caia fraca agora, as núvens começaram a sumir e a menina, virando as costas, deu adeus àquela chuva, pedaço dela, que parou de cair... pedaço dela que foi morrendo aos poucos.